Ela não é galante,
não usa ruge algum.
Sainte-Beuve
Capítulo XLIV
ASSIM QUE ELE SAIU, Julien chorou muito, e chorou por morrer. Aos poucos admitiu que, se a sra. de Rênal estivesse em Besançon, teria lhe confessado sua fraqueza.
No momento em que mais lamentava a ausência dessa mulher adorada, ouviu os passos de
Mathilde.
A pior das desgraças na prisão, pensou, é não poder fechar a porta. Tudo o que Mathilde
lhe disse não fez senão irritá-lo.
Ela contou que, no dia do julgamento, o sr. de Valenod, tendo no bolso sua nomeação de
governador, ousara zombar do sr. de Frilair e dar-se o prazer de condená-lo à morte.
“Que ideia teve seu amigo”, disse-me o sr. de Frilair, “de querer despertar e atacar a
pequena vaidade dessa aristocracia burguesa! Por que falar de casta? Ele indicou-lhes o que
deviam fazer em seu interesse político: aqueles tolos não pensavam nisso e estavam dispostos
a chorar. Esse interesse de casta veio mascarar, a seus olhos, o horror de condenar à morte. Se
não conseguirmos salvá-lo pelo pedido de indulto, sua morte será uma espécie de suicídio...”
Mathilde não chegou a dizer a Julien o que ela não suspeitava ainda: é que o abade de
Frilair, vendo Julien perdido, acreditava útil à sua ambição aspirar a ser seu sucessor.
Quase fora de si, à força de cólera impotente e de contrariedade, ele disse a Mathilde:
Vá ouvir uma missa por mim e deixe-me um instante em paz. Mathilde, já muito enciumada
pelas visitas da sra. de Rênal, e que acabava de saber de sua partida, compreendeu a causa da
irritação de Julien e desfez-se em lágrimas.
Julien via que o sofrimento dela era real, o que o deixou mais irritado. Ele sentia uma
necessidade imperiosa de solidão, e como obtê-la?
Por fim, depois de ter tentado todos os meios de comovê-lo, Mathilde o deixou só, mas
quase no mesmo instante Fouqué apareceu.
– Tenho muita necessidade de ficar só, disse ele a esse amigo fiel... E, como o visse
hesitar: Preparo uma apresentação para meu pedido de indulto... de resto... faça-me um favor,
nunca me fale da morte. Se eu tiver necessidade de alguns serviços particulares nesse dia,
deixa-me ser o primeiro a falar deles.
Quando Julien conseguiu finalmente ficar só, sentiu-se mais acabrunhado e mais covarde
do que antes. As poucas forças que restavam a essa alma debilitada haviam se esgotado em
disfarçar seu estado à srta. de La Mole e a Fouqué.
Ao anoitecer, uma ideia o consolou.
Se esta manhã, no momento em que a morte me parecia tão feia, tivessem me chamado para
a execução, o olhar do público teria sido o aguilhão da glória; talvez meu andar fosse um
pouco rígido, como o de um vaidoso tímido que entra num salão. Algumas pessoas
clarividentes, se há alguma entre esses provincianos, poderiam adivinhar minha fraqueza...
mas ninguém a veria.
E ele sentiu-se livre de uma parte de seu infortúnio. Sou um covarde neste momento,
repetia-se cantando, mas ninguém o saberá.
Um acontecimento quase ainda mais desagradável o esperava no dia seguinte. Há muito
seu pai anunciava visitá-lo; naquele dia, antes de Julien despertar, o velho carpinteiro de
cabelos brancos apareceu em seu cárcere.
O acaso nos colocou um junto ao outro na terra, ele pensava, enquanto o guarda arrumava
um pouco o cárcere, e nos fizemos quase todo o mal possível. Ele vem no momento de minha
morte desferir-me o último golpe.
As recriminações severas do velho começaram assim que se viram sem testemunhas.
Julien não pôde conter suas lágrimas. Que indigna fraqueza!, pensou, com raiva. Em toda
parte ele irá exagerar minha falta de coragem; que triunfo para os Valenod e para todos os
hipócritas que reinam em Verrières! Eles são muito poderosos na França, reúnem todas as
vantagens sociais. Até aqui, eu podia ao menos dizer-me: eles recebem dinheiro, é verdade,
todas as honrarias se acumulam sobre eles, mas eu tenho a nobreza do coração.
E eis que chega uma testemunha em quem todos acreditarão, e que comprovará a Verrières
inteira, exagerando, que fui fraco diante da morte! Terei sido um covarde nessa prova que
todos compreendem!
Julien estava à beira do desespero. Não sabia como mandar embora o pai. E fingir de
modo a enganar esse velho tão esperto estava completamente acima de suas forças naquele
momento.
Seu espírito percorria rapidamente todas as possibilidades.
– Fiz economias!, exclamou de repente.
Essa frase de gênio mudou a fisionomia do velho e a situação de Julien.
– Como devo dispor delas?, continuou Julien, mais tranquilo: o efeito produzido tirara-lhe
todo o sentimento de inferioridade.
O velho carpinteiro ardia de desejo de não deixar escapar esse dinheiro, do qual Julien
parecia querer reservar uma parte aos irmãos. Ele falou longamente e com ardor. Julien
conseguiu ser zombeteiro.
– Pois bem! Deus inspirou-me para o meu testamento. Darei mil francos a cada um de meus
irmãos e o resto ao senhor.
– Muito bem, disse o velho, esse resto me é devido; mas, já que Deus deu-lhe a graça de
tocar seu coração, convém pagar suas dívidas, se quiser morrer como bom cristão. Há ainda
as despesas de sua alimentação e de sua educação, que adiantei, e nas quais não pensou...
Eis aí o amor paterno!, repetia-se Julien com a alma compungida, quando finalmente ficou
sozinho. Logo apareceu o carcereiro.
– Senhor, depois da visita dos pais, trago sempre a meus hóspedes uma garrafa do bom
vinho de Champagne. Custa um pouco caro, seis francos a garrafa, mas é algo que alegra o
coração.
– Traga três copos, disse Julien com uma pressa infantil, e faça entrar dois dos
prisioneiros que escuto passearem pelo corredor.
O carcereiro trouxe-lhe dois condenados reincidentes e que se preparavam para retornar
aos trabalhos forçados. Eram celerados muito alegres e realmente notáveis pela astúcia, a
coragem e o sangue-frio.
– Se me der vinte francos, disse um deles a Julien, contarei minha vida em detalhe. É
maravilhosa.
– Mas não irá mentir?, disse Julien.
– De modo nenhum, respondeu; meu amigo aqui presente, que está com inveja de meus
vinte francos, me denunciará se eu não disser a verdade.
Sua história era abominável. Mostrava um coração corajoso no qual não havia senão uma
paixão, a do dinheiro.
Depois que eles saíram, Julien não era mais o mesmo homem. Toda a cólera contra si
mesmo desaparecera. A dor atroz envenenada pela pusilanimidade, a que se expusera desde a
partida da sra. de Rênal, transformara-se em melancolia.
Se eu tivesse sido menos enganado pelas aparências, pensava, teria visto que os salões de
Paris estão repletos de homens honestos como meu pai, ou de patifes espertos como esses
condenados. Eles têm razão, os homens de salão nunca se levantam de manhã com este
pensamento pungente: como almoçarei? E orgulham-se de sua probidade! Chamados ao júri,
condenam orgulhosamente o homem que roubou um talher de prata porque estava morto de
fome. Mas há uma corte, trata-se de ganhar ou perder um cargo ministerial, e os honestos
homens de salão cometem crimes exatamente iguais aos que a necessidade de almoçar
inspirou a esses dois condenados...
Não há de modo algum direito natural: essa expressão não passa de uma tolice antiga
muito digna do promotor que me perseguiu outro dia, e cujo avô enriqueceu por um confisco
de Luís XIV. Só há direito quando existe uma lei proibindo fazer tal coisa, sob pena de
punição. Antes da lei, natural é somente a força do leão, ou a necessidade da criatura que tem
fome, que tem frio, a necessidade, em suma... Não, as pessoas reverenciadas não passam de
tratantes que tiveram a sorte de não serem pegas em flagrante delito. O acusador que a sociedade lança em meu encalço foi enriquecido por uma infâmia... Cometi um crime e fui
justamente condenado, mas, salvo esse único ato, o Valenod que me condenou é cem vezes
mais prejudicial à sociedade.
Pois bem!, acrescentou Julien tristemente, mas sem cólera, apesar de sua avareza, meu pai
vale mais que todos esses homens. Ele nunca me amou. E, como se não bastasse, venho
desonrá-lo com uma morte infame. Esse medo de não ter dinheiro, essa noção exagerada da
maldade dos homens que chamam avareza, fazem-no ver um motivo de consolo e de segurança
numa quantia de trezentos ou quatrocentos luíses que posso lhe deixar. Num domingo depois
do almoço, ele mostrará seu ouro a todos os invejosos de Verrières. A esse preço, lhes dirá
seu olhar, qual de vocês não ficaria encantado de ter um filho guilhotinado?
Essa filosofia podia ser verdadeira, mas inclinava a fazer desejar a morte. Assim
passaram-se cinco longas jornadas. Ele mostrava-se polido e doce em relação a Mathilde, que
via exasperada pelo mais vivo ciúme. Uma noite, Julien pensava seriamente em matar-se. Sua
alma estava enfraquecida pela infelicidade profunda em que o lançara a partida da sra. de
Rênal. Nada mais lhe agradava, nem na vida real, nem na imaginação. A falta de exercício
começava a debilitar sua saúde e a dar-lhe o caráter exaltado e fraco de um jovem estudante
alemão. Ele perdia aquele orgulho viril que repele com uma enérgica imprecação certas ideias
pouco convenientes, de que a alma dos infelizes é invadida.
Amei a verdade... Onde está ela?... Em toda parte hipocrisia, ou ao menos charlatanismo,
mesmo entre os mais virtuosos, mesmo entre os maiores! e seus lábios adquiriram a expressão
do desgosto... Não, o homem não pode confiar no homem.
A sra. de ***, ao fazer uma coleta para seus pobres órfãos, dizia-me que certo príncipe
dera dez luíses; mentira. Mas, que digo? Napoleão em Santa-Helena!... Puro charlatanismo,
proclamação em favor do rei de Roma.
Ó Deus! Se tal homem, e mesmo quando o infortúnio devia chamá-lo severamente ao
dever, rebaixa-se até o charlatanismo, o que esperar do resto da espécie?...
Onde está a verdade? Na religião... Sim, acrescentou, com o sorriso amargo do mais
extremo desprezo, na boca dos Maslon, dos Frilair, dos Castanède... Estaria num verdadeiro
cristianismo em que os padres não mais seriam pagos, como não o foram os apóstolos?... Mas
São Paulo foi pago pelo prazer de comandar, de falar, de fazer falarem dele...
Ah! Se houvesse uma religião verdadeira... Como sou tolo! Vejo uma catedral gótica,
vitrais veneráveis; meu coração fraco imagina o homem religioso daqueles vitrais... Minha
alma o compreenderia, minha alma tem necessidade dele... E não encontro senão um vaidoso
de cabelos sujos... um cavaleiro de Beauvoisis sem sua elegância.
Mas um homem religioso verdadeiro, um Massillon, um Fénelon... Massillon consagrou
Dubois. As Memórias de Saint-Simon estragaram-me Fénelon... Mas, enfim, um homem
religioso verdadeiro... Então as almas ternas teriam um ponto de reunião no mundo... Não
estaríamos isolados... Esse homem bom nos falaria de Deus. Mas qual Deus? Não o da Bíblia,
pequeno déspota cruel e cheio da sede de vingança... mas o Deus de Voltaire, justo, bom,
infinito...
Ele foi agitado pelas lembranças dessa Bíblia que sabia de cor... Mas como, a partir do
momento em que são três pessoas numa só, acreditar nesse grande nome de DEUS, com o
terrível abuso que dele fazem nossos padres?
Viver isolado!... Que tormento!...
Estou me tornando louco e injusto, pensou Julien, batendo na testa. Estou isolado aqui
neste cárcere; mas não vivi isolado na terra; eu tinha a poderosa ideia do dever. O dever que
me era prescrito, com ou sem razão... foi como o tronco de uma árvore sólida ao qual me
agarrava durante a tempestade; eu vacilava, agitado, afinal não passava de um homem... Mas
eu não era arrastado.
É o ar úmido desse cárcere que me faz pensar no isolamento...
E por que ainda ser hipócrita maldizendo a hipocrisia? Não é nem a morte, nem o cárcere,
nem o ar úmido, é a ausência da sra. de Rênal que me pesa. Se, em Verrières, para vê-la, eu
fosse obrigado a viver semanas inteiras escondido nos porões da casa, será que me queixaria?
A influência de meus contemporâneos prevalece, ele disse em voz alta e com um riso
amargo. Falando a sós comigo mesmo, a dois passos da morte, ainda sou hipócrita... Ó século
XIX!
...Um caçador dispara um tiro de fuzil numa floresta, sua presa sai, ele corre para pegá-la.
Sua bota pisa um formigueiro de meio metro de altura, destrói a habitação das formigas,
espalha ao longe as formigas, seus ovos... Nem as mais filósofas das formigas poderão jamais
compreender esse corpo negro, imenso, terrível: a bota do caçador que, de repente, penetrou
em sua morada com incrível rapidez, e precedida de um ruído assustador acompanhado de
faíscas vermelhas...
...Assim a morte, a vida, a eternidade, coisas muito simples para quem tivesse órgãos
bastante vastos para concebê-las...
Uma efeméride nasce às nove horas da manhã nos dias de verão, para morrer às cinco da
tarde; como ela compreenderia a palavra noite?
Deem-lhe cinco horas de existência a mais, ela verá e compreenderá o que é a noite.
Assim também comigo, que morrerei aos vinte e três anos: deem-me mais cinco anos de vida
para viver com a sra. de Rênal.
E pôs-se a rir como Mefistófeles. Que loucura discutir estes grandes problemas!
1o
) Sou hipócrita, como se aqui houvesse alguém para escutar-me.
2o
) Esqueço de viver e de amar, quando me restam tão poucos dias de vida... Ai! A sra. de
Rênal está ausente; talvez seu marido não a deixe mais voltar a Besançon e continuar a
desonrar-se.
Eis o que me isola, e não a ausência de um Deus justo, bom, todo-poderoso, sem maldade,
sem avidez de vingança.
Ah! Se ele existisse... eu cairia a seus pés! Mereci a morte, lhe diria; mas devolve-me, ó
Deus grande, Deus bom, Deus indulgente, aquela que amo!
A noite era então muito avançada. Depois de uma hora ou duas de sono tranquilo, Fouqué
chegou.
Julien sentia-se forte e decidido como o homem que vê com clareza em sua alma.
continua página 350...
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Leia também:
O Vermelho e o Negro: Os Prazeres do Campo (I-2)
O Vermelho e o Negro: Entrada na Sociedade (II)
O Vermelho e o Negro: Os Primeiros Passos (III)
O Vermelho e o Negro: A Mansão de La Mole (IV-1)
O Vermelho e o Negro: A Mansão de La Mole (IV-2)
O Vermelho e o Negro: (XLIV)
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ADVERTÊNCIA DO EDITOR
Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.
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DATAS E FATOS
1699: Nascimento em Grenoble do grande Pierre Beyle, avô de Stendhal, futuro procurador
no Parlamento de Grenoble.
1728: Nascimento em Grenoble de Henri Gagnon, avô materno de Stendhal.
1747: Nascimento em Grenoble de Chérubin Beyle, pai de Stendhal. Em 1757 nasce Henriette
Gagnon, sua mãe. Em 1781 acontece o casamento de seus pais.
1783-1799: INFÂNCIA EM GRENOBLE
1783, 23 de janeiro: nasce Henri Beyle, em Grenoble, na casa paterna, à rua des Vieux
Jésuites, atualmente rua Jean-Jacques Rousseau. Três anos depois nascerá sua irmã Pauline e,
em 1788, sua segunda irmã, Zénaïde-Caroline, que ele detestará e acusará de “mexeriqueira”.
Em 23 de novembro de 1790, o jovem Henri terá o desgosto de ver falecer a mãe que, segundo
sua própria confissão, ele adorava. De seu pai já o separa um ódio inexpiável; Chérubin
Beyle, desesperado pela morte da mulher, vive no isolamento e, segundo o filho, no tédio e na
mesquinhez. Essa primeira infância deixará a Henri Beyle amargas lembranças. Sua tia
Séraphie, que, segundo ele, o pai cortejava, o teria perseguido; ele só encontra ternura e
compreensão junto ao avô Gagnon, médico renomado e homem esclarecido, e à irmã deste, a
tia Élisabeth de coração “espanhol” e máximas generosas. Passa longas horas na casa do avô
na praça Grenette, numa casa muito bela com um terraço coberto de caramanchão, que ainda
existe.
1788: É o ano das primeiras lembranças revolucionárias. Henri Beyle, cujo avô paterno será,
em dezembro, deputado nos Estados provinciais de Romans, assiste, entre outras, a algumas
cenas da famosa “jornada das Telhas”.
1791: Henri, que não conhece ainda os arredores de Grenoble, onde o pai possui terras e onde
fará passeios tristonhos, encontra uma efêmera felicidade ao passar uma temporada na casa do
tio Romain Gagnon, em Les Échelles, na Savoia; as florestas e as cachoeiras deixam-no
maravilhado.
Dezembro de 1792: É o começo da pior época de sua infância, a tirania Raillane; esse padre
austero, “verdadeiro jesuíta”, o teria oprimido, despertando-lhe para sempre uma repugnância
à hipocrisia e à autoridade. O padre execrado coincide em suas lembranças com a figura do
Pai, do qual é apenas o instrumento despótico. Esse período dura até 1794.
1793-1795: Por uma desforra imediata, Henri vê o pai aterrorizado pela morte de Luís XVI.
Mais tarde, ele se orgulhará de já ter sido um jacobino e um patriota intransigente. Chérubin
Beyle, “notoriamente suspeito”, é detido e só será libertado definitivamente em julho de 1794.
Henri Beyle assiste ao Terror em Grenoble, diverte-se às vezes com o pavor de seus parentes,
partidários da realeza ou “moderados”, que rezam aos domingos uma missa clandestina. Uma
noite, no inverno de 1794-1795, ele escapa de casa e assiste, com um pouco de repulsa, a uma
sessão da Sociedade dos Jacobinos. Mas a visão dos belos cavaleiros do exército republicano
o entusiasma.
1796-1797: Henri Beyle ingressa na Escola Central de Grenoble. Seu avô participou da
organização da escola e pronuncia um discurso na sessão de abertura. Henri, até então
solitário e escravo, desfruta de um pouco mais de liberdade. Tanto mais que a terrível tia
Séraphie morre em 1797. Ele conhece enfim jovens de sua idade, alguns dos quais
permanecerão seus amigos. Ficará três anos na Escola Central, a princípio sem se destacar,
depois como aluno brilhante; obtém menções honrosas, prêmios em desenho, belas-letras, e
sobretudo matemática; conta, para deixar Grenoble, com um sucesso na Escola Politécnica. É
também a época das primeiras paixões: ele ama timidamente a irmã de seu amigo Bigillion, e
não menos timidamente a atriz Virginie Kubly. Finalmente, em 30 de outubro de 1799, parte
para Paris, onde deve prestar o exame de ingresso na Politécnica, lá chegando em 10 de
novembro, isto é, 19 de brumário.
1799-1806: AMORES E LEITURAS
1799: Henri Beyle logo esquece o exame, encerra-se na solidão e no tédio; reside na casa dos
Daru, na rua de Lille, encarregados de protegê-lo.
1800: É o grande ano de Beyle. A partir de janeiro, passa a trabalhar com Pierre Daru no
ministério da guerra.Pierre Daru, inspetor de tropas, faz que ele participe da campanha da
Itália. Henri Beyle atravessa os Alpes e tem seu batismo de fogo no forte de Bard. Sua
chegada na Itália é uma série de encantamentos; em Ivrea, no Piemonte, ouve “O casamento
secreto” de Cimarosa; em Milão, descobre o amor venal e o amor paixão na pessoa de Angela
Pietragua, que será sua amante. No outono, graças a seus protetores, veste o uniforme do 6º
Regimento dos Dragões e, sem disparar um tiro, é promovido a subtenente. No ano seguinte,
na Itália do Norte, acompanha de cidade em cidade o general Michaud, do qual é auxiliar de
campo. Mas vem o tédio e, no final de 1801, obtém uma dispensa e volta à França. Aprendeu
italiano, escreve seus primeiros ensaios dramáticos e começa seu Diário.
1802-1805: Henri Beyle vive em Paris, que ele só abandona para temporadas mais ou menos
longas em Grenoble. É lá que conhece, em janeiro de 1802, Victorine Mounier, sua nova
paixão, tão platonicamente amada quanto as anteriores. É o momento, sobretudo, em que Beyle
devora livros e forja sua doutrina pessoal, a “Filosofia nova”, consignada em cadernos de
apontamentos e reflexões. Pede demissão do exército e não sonha mais igualar-se a Molière.
Apaixona-se por sua prima Adèle Rebuffel, mas só consegue ser o amante da mãe dela.
Ingressa no mundo do teatro, toma aulas de declamação e fica conhecendo a jovem atriz
Mélanie Guilbert, que ele seduzirá, não sem dificuldade, mediante uma minuciosa estratégia.
A política tenta-o às vezes: ele reage como republicano ante o advento do Império. Mas o
grande acontecimento, mais do que a concepção de Letellier, peça jamais terminada, é a
leitura apaixonada de A ideologia, de Tracy.
1805: Beyle tornou-se um dândi, mas seu pai é avarento, donde a ideia de fazer dinheiro em
Marselha com seu amigo Mante. Mélanie possui justamente um negócio por lá. No final de
julho, está estabelecido em Marselha, amante de Mélanie e empregado na casa de produtos
coloniais C. Meunier et Cie. Será o começo de uma rápida fortuna no ramo dos negócios?
1806: Não, é o tédio outra vez. Beyle, que prossegue suas leituras e reflexões, cansa-se de
Mélanie e do comércio, condenado à estagnação pela guerra. Sente necessidade de aproximar
se novamente dos Daru, de participar da corrida aos cargos. De volta a Paris em julho, torna a
partir de lá em 16 de outubro, acompanhando Martial Daru. Terá entrado em Berlim com
Napoleão, como dirá, tendo à mão pistolas carregadas? O certo é que no final do ano está em
Brunswick, na qualidade de adjunto provisório aos comissários das Guerras napoleônicas.
1806-1814: A PAIXÃO DA AMBIÇÃO
1806-1808: Para conquistar fortuna e títulos e viver como lhe apraz, Henri Beyle torna-se
funcionário imperial graças aos Daru. Permanece primeiro em Brunswick no mesmo cargo,
depois é encarregado de administrar os domínios imperiais do departamento de Ocker e, além
disso, de vigiar os bens do rei da Vestefália. Enamora-se, sem esperança, de Mina de
Griesheim. Escreve Voyage à Brunswick [Viagem a Brunswick] e diversos ensaios históricos.
Inicia-se na literatura inglesa, percorre a Alemanha e enfrenta uma sedição em setembro de
1808.
1809: Chamado de volta a Paris, no final de 1808, torna a partir em abril para a campanha de
Wagram. Acompanha o exército, não assiste à grande batalha, mas recolhe cruéis depoimentos
de guerra. Em Viena, onde ouve o Requiem pela morte de Haydn, trabalha para Martial Daru,
intendente da província, que lhe confia uma missão na Hungria. Enamora-se de uma certa
Babet e apaixona-se pela condessa Pierre Daru, mulher de seu protetor.
1810-1811: É o apogeu de sua carreira. Em agosto de 1810, é admitido como auditor no
Conselho de Estado; logo é nomeado inspetor do mobiliário e das construções da Coroa.
Possui cocheiro, carruagem e amante, a atriz Angeline Béreyter, ao mesmo tempo em que
elabora relatórios minuciosos sobre o mobiliário das residências imperiais e dos museus. Mas
não é bem-sucedido na arte de obter favores nem nas conquistas amorosas. A batalha
empreendida, depois de maduras reflexões, para possuir a condessa Daru é uma batalha
perdida. Para desforrar-se, viaja à Itália, onde escreve o Diário e volta a ser o amante
cumulado e certamente enganado de Angela Pietragua. Revê Milão, descobre Florença, Roma,
Nápoles, tem a ideia de escrever a Histoire de la Peinture en Italie. Mas, ao retornar, a
ambição marca passo e Beyle não fará mais progressos.
1812: Em 23 de julho, após uma audiência com a Imperatriz, parte para juntar-se ao quartel
general do Imperador, munido da pasta dos ministros; alcança-o em 14 de agosto e, um mês
depois, entra em Moscou. Precedendo a retirada, parte de lá em 16 de outubro, encarregado de
dirigir os aprovisionamentos em Smolensk, Mohilev e Vitebsk. Enfrenta os perigos e os
sofrimentos físicos com um inalterável sangue-frio. Mas perde os manuscritos da História da
pintura.
1813: Seu novo posto é na Silésia, em Sagan, onde cumpre as funções de intendente. Está
cansado e desiludido: não é nem barão, nem governador, nem consultor do Conselho de
Estado. Em Bautzen, é atacado pelos cossacos. Uma licença oportuna permite-lhe rever Milão
e sua querida Lombardia.
1814: Está em Grenoble, como auxiliar do conde de Saint-Villier, comissário extraordinário
da 7ª região militar. É preciso organizar a resistência à invasão. Mas o “fogo sagrado”
extinguiu-se; cansado das intrigas administrativas, cansado da ambição e do Império, solicita
sua dispensa. Encontra-se em Paris no momento da entrada dos Aliados. É a queda de sua
fortuna. Beyle ainda tenta um cargo com a proteção da sra. Beugnot. Em maio e junho escreve
as Lettres sur Haydn, Mozart e Métastase [Cartas sobre Haydn, Mozart e Metastásio], em
que o plágio é cínico. Finalmente, em julho, deixa Paris por Milão: foge dos Bourbons, da
obscuridade e do aborrecimento? Ele começa sua verdadeira vida, enfim, de escritor, de
diletante.
1814-1821: MILANÊS
1814: Em Milão, reata sua relação tempestuosa com Angela. Enquanto seu pai, reacionário, é
condecorado com a Legião de Honra, e torna-se prefeito de Grenoble, Henri viaja, escreve,
desesperado com o desprezo de Angela.
1815: O retorno de Napoleão da ilha de Elba não o faz voltar à França; mas Waterloo o
entristece. Viaja a Turim e a Veneza. Trabalha muito na História da pintura. O final do ano é
marcado pelo rompimento, doloroso, com Angela.
1816: Ele passa quase o ano inteiro em Milão, que abandona apenas para uma temporada de
abril a junho em Grenoble, e uma viagem a Roma no fim do ano. Encontra-se em Grenoble,
certamente por acaso, no momento do complô de Didier. Apoquentam-no por causa de seus
vencimentos de inativo. Pensa em fazer fortuna na Rússia. Mas uma noite, no Scala em Milão,
no camarote do monsenhor di Breme, é apresentado a Byron. Nesse ano, ele descobre o
verdadeiro romantismo com a Edimburgh Review.
1817: Stendhal está em Roma, Nápoles, Milão, depois, na primavera, em Grenoble e em
Paris, finalmente em Londres, em agosto, voltando a Milão no fim do ano. A Histoire de la
Peinture en Italie, assinada por M. B. A. A., é publicada no fim de julho, e Rome, Naples et
Florence en 1817, do sr. de Stendhal, oficial de cavalaria, é anunciado em setembro na
Bibliographie de France. As cartas sobre Haydn, traduzidas em inglês, aparecem em
Londres. Novo encontro memorável: com Destutt de Tracy, a 4 de setembro, em Paris.
1818: O ano se passa em Milão, junto aos lagos, na Brianza. Em dois momentos, ele trabalha
na impublicável Vie de Napoleón, iniciada no ano anterior. Resolve intervir na querela do
“romanticismo”, ligando-se ao futuro grupo do Conciliatore. Mas, em março, apaixona-se
perdidamente por Métilde Dembovski, que quase em seguida o trata muito mal. É talvez o
acontecimento maior de sua vida, que irá ocupá-lo inteiramente por longos anos e que ele
jamais poderá evocar sem perturbar-se.
1819: Comete mil extravagâncias por Métilde. Em vão: ela não quer mais saber dele. Stendhal
só deixa a Itália para ir a Grenoble e Paris: seu pai morreu, é preciso tratar da herança, que se
revela minguada. Como é eleitor, aproveita para votar a favor do convencional Grégoire.
1820: Sua paixão é sem esperança. Novo desgosto: durante algum tempo é visto por seus
amigos milaneses como um espião. Escreve De l’Amour [Do amor], que termina e envia à
França.
1821: Stendhal é envolvido no turbilhão das conjurações liberais. Seus amigos são
carbonários, a própria Métilde é suspeita de sê-lo. Aconselham-no a partir. A 13 de junho,
desesperado, ele deixa Milão, onde só voltará em 1828 para ser imediatamente expulso.
Instala-se em Paris e passa algumas semanas em Londres.
1821-1830: A VIDA PARISIENSE
1822: Em Paris, Stendhal publica De L´Amour, anunciado em 17 de agosto na Bibliographie
de France, e começa a colaborar com revistas britânicas que, apesar de algumas interrupções,
receberão artigos seus até 1828. Ele frequenta o salão do conde de Tracy e a água-furtada de
Delécluze.
1823: Stendhal, amigo íntimo da cantora italiana Pasta, conhece seu primeiro verdadeiro
sucesso ao apresentar Rossini ao público francês: sua Vie de Rossini é anunciada em
novembro na Bibliographie de France. Ele colocou-se no front do romantismo literário com o
panfleto Racine et Shakespeare, publicado em março. Termina o ano com uma temporada em
Florença e Roma.
1824: Em maio, torna-se o amante da condessa Curial, dita Menti, que ele amará com
violência até 1826. Diletante especialista, escreve sobre pintura e música no Journal de
Paris. O Le Globe também publica seus artigos. Ele torna-se quase importante no romantismo
liberal.
1825: É o ano dos panfletos, o segundo Racine et Shakespeare, em março, Un nouveau
complot contre les industriels, em dezembro. Amigo de Courier, de Mérimée, de Jacquemont,
frequentador dos grandes salões liberais, será temido por seu “espírito”.
1826: Fim do caso de amor com a condessa Curial. Viagem à Inglaterra. Publica uma segunda
edição muito modificada de Rome, Naples et Florence, e escreve Armance, que sairá em
1827.
1827: Ano meio parisiense, meio italiano.
1828: 1o-2 de janeiro, Stendhal é expulso de Milão. Está em dificuldades financeiras, as
revistas inglesas não pagam mais; conta apenas com seus vencimentos de inativo. É obrigado a
solicitar favores: será arquivista, bibliotecário? Nomeiam-no verificador auxiliar dos
brasões, cargo que não lhe rende nada. Pensa em suicídio. Levado pela moda das “cenas
históricas”, escreve Henri III.
1829: Escreve e publica Promenades en Rome [Passeios em Roma], anunciados em 5 de
setembro pelo Journal de la Librairie. Levam a sério seu conhecimento do Estado romano, e
o governo lhe teria pedido um relatório sobre os cardeais com possibilidades de chegar ao
papado. Ligação com Alberthe de Rubempré, dita Sanscrit, ou Madame Azul, que ele ama
vigorosamente. Sentindo-se rejeitado, parte em viagem para o sul da França e a Espanha (de
onde é expulso): ao voltar, em dezembro, vê-se definitivamente suplantado por seu amigo
Mareste. Mas traz a ideia de Le Rouge et le Noir [O vermelho e o negro] e escreve Vanina
Vanini, Le Coffre et le Revenant [O baú e a alma do outro mundo], que serão publicados na
Revue de Paris, e Mina de Vanghel, que permanecerá inédito durante sua vida.
1830: Escreve Le Philtre [O filtro], Le Rouge et le Noir, colabora com as publicações Le
National e Le Temps, conhece em janeiro o outro líder do romantismo, Hugo. Na mesma
época, Giulia Rinieri declara que o ama apesar de sua idade e sua feiura; prudentemente, ele
não cede de imediato; em 22 de março, torna-se seu amante. Enquanto termina Le Rouge, a
Revolução de 1830 o alegra e o vinga. Anota os progressos da sedição às margens do
Memorial de Santa Helena. Pela primeira vez, ama e estima os parisienses. Solicita um cargo
de governador, posteriormente de cônsul; em 25 de setembro é nomeado cônsul em Trieste.
Parte em 6 de novembro; no mesmo dia pede Giulia em casamento. No dia 13, o Journal de la
Librairie anuncia O vermelho e o negro.
1830-1842: CÔNSUL DA FRANÇA
1830-1831: A polícia e o governo austríacos inquietam-se e, em 4 de dezembro, poucos dias
depois de Stendhal assumir seu posto, Les Débats anunciam que Viena recusou-lhe o
exequatur. Ele deixa Trieste em 31 de março e é nomeado cônsul em Civita-Vecchia. O
governo pontifício, embora não satisfeito com essa nomeação, prefere evitar um incidente com
a França e concede o exequatur em 25 de abril. Stendhal, que chegou a seu posto dia 17, vai e
vem entre Civita-Vecchia e Roma. De meados de agosto a meados de setembro, viagens a
Siena, Florença, Prato, Viterbo. Ele escreve, no final de setembro, San Francesco a Ripa, que
não publica.
1832: Stendhal é encarregado do serviço financeiro das tropas francesas desembarcadas em
Ancona. Depois dessa missão, viaja e abandona seu posto; vai a Roma, a Siena, onde encontra
Giulia, ainda apaixonadamente amada, a Florença, aos Abruzos. De 20 de junho a 4 de julho,
escreve Souvenirs d´égotisme [Lembranças do egotismo] e, em setembro-outubro, esboça um
romance: Une position sociale.
1833: Vai outra vez a Siena para ver Giulia. Mas ela se casa em junho. Stendhal encontrou os
“manuscritos italianos” e começa a preparar sua adaptação. De 11 de setembro a 4 de
dezembro, está em Paris, de licença. Na volta, viaja de Lyon a Marselha com Musset e George
Sand, que vão a Veneza.
1834: Ano de permanência em Civita-Vecchia, que ele só abandona para ir a Roma. Primeiras
escaramuças com seu chanceler, Lysimaque Tavernier, e com o ministério, por conta de suas
ausências. “Morro de tédio”, escreve Stendhal em maio, que resolve empreender por conta
própria uma ideia de romance de sua amiga, sra. Gaulthier: é Lucien Leuwen, no qual trabalha
“com raiva” durante dezenove meses.
1835: Ainda permanência e tédio. Stendhal sente seu posto ameaçado, embora em janeiro
tenha recebido a Legião de Honra como homem de letras. Está um pouco enamorado da
condessa Cini, que ele chama Sandre. Em setembro, abandona Lucien Leuwen e, em
novembro, começa La Vie d´Henry Brulard. Mas o desgosto e a inquietude crescem: “Terei de
viver e morrer nesta praia solitária?... Estou cansado do sol...” Enfim, em março de 1836,
obtém uma licença de três meses; deixa esboçado Henry Brulard e, em 24 de maio,
desembarca em Paris.
1836-1839: Sua licença de três meses irá durar, graças à proteção do conde Molé, três anos.
Ele tenta primeiro reatar com a condessa Curial; depois, empreende a batalha, mas em vão,
pela sra. Gaulthier, sua velha amiga. De novembro de 1836 a junho de 1837, trabalha nas
Mémoires sur Napoléon; de abril a junho de 1837, escreve Rose et Vert; ainda em 1837,
publica na Revue des deux Mondes, Vittoria Accoramboni (1º de março) e Les Cenci (1º de
julho). Do fim de maio ao início de julho de 1837, faz uma viagem pelo centro e o oeste da
França; logo ao voltar, escreve Les Mémoires d´un Touriste, que serão anunciadas em junho
de 1838 na Bibliographie de France. De março a julho de 1838, volta a fazer uma longa
viagem pelo sudoeste e o sudeste da França, a Suíça, a Renânia, a Holanda e a Bélgica. Ao
voltar, publica La Duchesse de Palliano [A duquesa de Palliano] (15 de agosto); em
setembro, tem a primeira ideia de La Chartreuse de Parme [A cartuxa de Parma]. Mas é
somente depois de retornar de uma breve viagem à Bretanha e à Normandia que escreve sua
obra-prima, entre 4 de novembro e 26 de dezembro de 1838. Publica a seguir, na Revue des
deux Mondes, A´Abbesse de Castro [A Abadessa de Castro], que começara em setembro de
1838: a primeira parte aparece em 1º de fevereiro de 1839 e a segunda em 1º de março. A
cartuxa é anunciada pelo Journal de la Librairie em 6 de abril. Esboça ainda duas novelas
italianas: Suora Scolastica, Trop de faveur tue [Favor em excesso mata], duas novelas
francesas, Le Chevalier de Saint-Ismier, Feder, e concebe o romance Lamiel. Mas, em 24 de
junho, é obrigado a partir de volta a seu consulado, que reassume em 10 de agosto.
1839-1841: Só abandona seu posto para ir a Roma, a Nápoles, que visita com Mérimée
(outubro-novembro de 1839), a Florença, durante o verão de 1840 e sempre por causa de
Giulia, que tornara a encontrar em Paris. Em Civita-Vecchia ocupa-se de escavações e
caçadas, prossegue incansavelmente Lamiel, começa uma novela, Don Pardo, corrige A cartuxa. Em 1840, apaixona-se por Earline; mas essa nova “batalha” por uma misteriosa
desconhecida é mais uma vez perdida, em junho. Em 15 de março de 1841, sofre um ataque de
apoplexia; recupera-se rapidamente, mas já “engalfinhou-se com o nada”. Segue-se uma
última intriga com “Madame Bouche”; depois, munido de uma licença, volta à França em
novembro de 1841.
1842: Stendhal só consegue retomar o trabalho em março de 1842: cogita uma nova coletânea
de novelas. Mas, em 22 de março, tem um novo ataque de apoplexia, na calçada da rua Neuve
des Capucines. Morre durante a noite sem recobrar os sentidos.
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