O CORTIÇO
Aluísio Azevedo
X
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Aluísio Azevedo
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No entanto, começou a imaginar como seria, no caso que estivesse prevenido de roupa e aceitasse o
convite: figurou-se bem vestido, de pano fino, com uma boa cadeia de relógio, uma gravata com
alfinete de brilhantes; e viu-se lá em cima, no meio da sala, a sorrir para os lados, prestando atenção
a um, prestando atenção a outro, discretamente silencioso e afável, sentindo que o citavam dos lados
em voz mortiça e respeitosa como um homem rico, cheio de independência. E adivinhava os olhares
aprobativos das pessoas sérias; os óculos curiosos das velhas assestados sobre ele, procurando ver se
estaria ali um bom arranjo para uma das filhas de menor cotação.
Nesse dia serviu mal e porcamente aos fregueses; tratou aos repelões a Bertoleza e, quando, já as
cinco horas, deu com a Marciana, que, uns negros por compaixão haviam arrastado para dentro da
venda, disparatou:
- Ora bolas! pra que diabo me metem em casa este estupor?! Gosto de ver tais caridades com o que é
dos outros! Isto aqui não é acoito de vagabundos!...
E, como um polícia, todo encharcado de chuva, entrasse para beber um gole de parati, João Romão
voltou-se para ele e disse-lhe: Camarada, esta mulher é gira! não tem domicilio, e eu não hei de,
quando fechar a porta, ficar com ela aqui dentro da venda!
O soldado saiu e, daí a coisa de uma hora, Marciana era carregada para o xadrez, sem o menor
protesto e sem interromper o seu monólogo de demente. Os cacaréus foram recolhidos ao depósito
público por ordem do inspetor do quarteirão. E a Bruxa era a única que parecia deveras
impressionada com tudo aquilo.
Entretanto, a chuva cessou completamente, o sol reapareceu, como para despedir-se; andorinhas
esgaivotaram no ar; e o cortiço palpitou inteiro na trêfega alegria do domingo. Nas salas do barão a
festa engrossava, cada vez mais estrepitosa; de vez em quando vinha de lá uma taça quebrar-se no
pátio da estalagem, levantando protestos e surriadas.
A noite chegou muito bonita, com um belo luar de lua cheia, que começou ainda com o crepúsculo; e
o samba rompeu mais forte e mais cedo que de costume, incitado pela grande animação que havia
em casa do Miranda.
Foi um forrobodó valente. A Rita Baiana essa noite estava de veia para a coisa; estava inspirada!
divina! Nunca dançara com tanta graça e tamanha lubricidade!
Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no
cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o
mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero
de luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra.
Jerônimo não pôde conter-se: no momento em que a baiana, ofegante de cansaço, caiu exausta,
assentando-se ao lado dele, o português segredou-lhe com a voz estrangulada de paixão:
- Meu bem! se você quiser estar comigo, dou uma perna ao demo!
O mulato não ouviu, mas notou o cochicho e ficou, de má cara, a rondar disfarçadamente o rival.
O canto e a dança continuavam todavia, sem afrouxar. Entrou a das Dores. Nenen, mais uma amiga
sua, que fora passar o dia com ela, rodavam de mãos nas cadeiras, rebolando em meio de uma volta
de palmas cadenciadas, no acompanhamento do ritmo requebrado da musica.
Quando o marido de Piedade disse um segundo cochicho à Rita, Firmo precisou empregar grande
esforço para não ir logo às do cabo.
Mas, lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se toda sobre o português e
soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo, de um salto, aprumou-se então defronte dele,
medindo-o de alto a baixo com um olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé,
respondeu altivo com um gesto igual. Os instrumentos calaram-se logo. Fez-se um profundo
silêncio. Ninguém se mexeu do lugar em que estava. E, no meio da grande roda, iluminados
amplamente pelo capitoso luar de abril, os dois homens, perfilados defronte um do outro, olhavam-se
em desafio.
Jerônimo era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hércules, punho de quebrar um coco
com um murro: era a força tranquila, o pulso de chumbo. O outro, franzino, um palmo mais baixo
que o português, pernas e braços secos, agilidade de maracajá: era a força nervosa; era o
arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante. Um, sólido e resistente; o
outro, ligeiro e destemido, mas ambos corajosos.
- Senta! Senta!
- Nada de rolo!
- Segue a dança, gritaram em volta.
Piedade erguera-se para arredar o seu homem dali.
O cavouqueiro afastou-a com um empurrão, sem tirar a vista de cima do mulato.
- Deixa-me ver o que quer de mim este cabra!... rosnou ele.
- Dar-te um banho de fumaça, galego ordinário! respondeu Firmo, frente a frente; agora avançando e
recuando, sempre com um dos pés no ar, e bamboleando todo o corpo e meneando os braços, como
preparado para agarrá-lo.
Jerônimo, esbravecido pelo insulto, cresceu para o adversário com um soco armado; o cabra, porém,
deixou-se cair de costas, rapidamente, firmando-se nas mãos o corpo suspenso, a perna direita
levantada; e o soco passou por cima, varando o espaço, enquanto o português apanhava no ventre um
pontapé inesperado.
- Canalha! berrou possesso; e ia precipitar-se em cheio sobre o mulato, quando uma cabeçada o
atirou no chão.
- Levanta-se, que não dou em defuntos! exclamou o Firmo, de pé, repetindo a sua dança de todo o
corpo.
O outro erguera-se logo e, mal se tinha equilibrado, já uma rasteira o tombava para a direita,
enquanto da esquerda ele recebia uma tapona na orelha. Furioso, desferiu novo soco, mas o capoeira
deu para trás um salto de gato e o português sentiu um pontapé nos queixos.
Espirrou sangue da boca e das ventas. Então fez-se um clamor medonho. As mulheres quiseram
meter-se de permeio, porém o cabra as emborcava com rasteiras rápidas, cujo movimento de pernas
apenas se percebia. Um horrível sarilho se formava. João Romão fechou às pressas as portas da
venda e trancou o portão da estalagem, correndo depois para o lugar da briga. O Bruno, os mascates,
os trabalhadores da pedreira, e todos os outros que tentaram segurar o mulato, tinham rolado em
torno dele, formando-se uma roda limpa, no meio da qual o terrível capoeira, fora de si, doido,
reinava, saltando a um tempo para todos os lados, sem consentir que ninguém se aproximasse. O
terror arrancava gritos agudos. Estavam já todos assustados, menos a Rita que, a certa distância, via,
de braços cruzados, aqueles dois homens a se baterem por causa dela; um ligeiro sorriso lhe encrespava os lábios. A lua escondera-se; mudara o tempo; o céu, de limpo que estava, fizera-se cor de lousa;
sentia-se um vento úmido de chuva. Piedade berrava, reclamando polícia; tinha levado um troca-queixos do marido, porque insistia em tirá-lo da luta. As janelas do Miranda acumulavam-se de
gente. Ouviam-se apitos, soprados com desespero.
Nisto, ecoou na estalagem um bramido de fera enraivecida: Firmo acabava de receber, sem esperar,
uma formidável cacetada na cabeça. É que Jerônimo havia corrido à casa e armara-se com o seu
varapau minhoto. E então o mulato, com o rosto banhado de sangue, refilando as presas e
espumando de cólera, erguera o braço direito, onde se viu cintilar a lâmina de uma navalha.
Fez-se uma debandada em volta dos dois adversários, estrepitosa, cheia de pavor. Mulheres e
homens atropelavam-se, caindo uns por cima dos outros. Albino perdera os sentidos; Piedade
clamava, estarrecida e em soluços, que lhe iam matar o homem; a das Dores soltava censuras e
maldições contra aquela estupidez de se destriparem por causa de entrepernas de mulher; a Machona,
armada com um ferro de engomar, jurava abrir as fuças a quem lhe desse um segundo coice como
acabava ela de receber um nas ancas; Augusta enfiara pela porta do fundo da estalagem, para
atravessar o capinzal e ir à rua ver se descobria o marido, que talvez estivesse de serviço no
quarteirão. Por esse lado acudiam curiosos e o pátio enchia-se de gente de fora. Dona Isabel e
Pombinha, de volta da casa de Léonie, tiveram dificuldade em chegar ao número 15 onde, mal
entraram, fecharam-se por dentro, praguejando a velha contra a desordem e lamentando-se da sorte
que as lançou naquele inferno. Entanto, no meio de uma nova roda, encintada pelo povo, o português
e o brasileiro batiam-se.
Agora a luta era regular: havia igualdade de partidos, porque o cavouqueiro jogava o pau
admiravelmente; jogava-o tão bem quanto o outro jogava a sua capoeiragem. Embalde Firmo tentava
alcançá-lo; Jerônimo, sopesando ao meio a grossa vara na mão direita, girava-a com tal perícia e
ligeireza em torno do corpo, que parecia embastilhado por uma teia impenetrável e sibilante. Não se
lhe via a arma, só se ouvia um zunido do ar simultaneamente cortado em todas as direções.
E, ao mesmo tempo que se defendia, atacava. O brasileiro tinha já recebido pauladas na testa, no
pescoço, nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas pernas. O sangue inundava-o inteiro; ele
rugia e arfava, iroso e cansado, investindo ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui,
livrando-se dali, aos pulos e às cambalhotas.
A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores aclamavam-no já com entusiasmo; mas,
de súbito, o capoeira mergulhou, num relance, até as canelas do adversário e surgiu-lhe rente dos pés,
grupado nele, lhe rasgando o ventre com uma navalhada.
Jerônimo soltou um mugido e caiu de borco, segurando os intestinos.
- Matou! Matou! Matou! exclamaram todos com assombro.
Os apitos esfuziaram mais assanhados.
Firmo varou pelos fundos do cortiço e desapareceu no capinzal.
- Pega! Pega!
- Ai, o meu rico homem! ululou Piedade, atirando-se de joelhos sobre o corpo ensanguentado do
marido. Rita viera também de carreira lançar-se ao chão junto dele, para lhe afagar as barbas e os
cabelos.
- É preciso o doutor! suplicou aquela, olhando para os lados à procura de uma alma caridosa que lhe
valesse.
Mas nisto um estardalhaço de formidáveis pranchadas estrugiu no portão da estalagem. O portão
abalou com estrondo e gemeu.
- Abre! Abre! reclamavam de fora.
João Romão atravessou o pátio, como um general em perigo, gritando a todos:
- Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!
- Não entra! Não entra! repercutiu a multidão em coro.
E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo.
- Aguenta! Aguenta!
Jerônimo foi carregado para o quarto, a gemer, nos braços da mulher e da mulata.
- Aguenta! Aguenta!
De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho
coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para
sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois
rivais, estava direito! “Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!” mas agora
tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma
coisa querida.
- Não entra! Não entra!
E berros atroadores respondiam às pranchadas, que lá fora se repetiam ferozes.
A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre que penetrava em qualquer estalagem,
havia grande estropício; à capa de evitar e punir o jogo e a bebedeira, os urbanos invadiam os
quartos, quebravam o que lá estava, punham tudo em polvorosa. Era uma questão de ódio velho.
E, enquanto os homens guardavam a entrada do capinzal e sustentavam de costas o portão da frente,
as mulheres, em desordem, rolavam as tinas, arrancavam jiraus, arrastavam carroças, restos de
colchões e sacos de cal, formando às pressas uma barricada.
As pranchadas multiplicavam-se. O portão rangia, estalava, começava a abrir-se; ia ceder. Mas a
barricada estava feita e todos entrincheirados atrás dela. Os que entravam de fora por curiosidade não
puderam sair e viam-se metidos no surumbamba. As cercas das hortas voaram. A Machona terrível
fungara as saias e empunhava na mão o seu ferro de engomar. A das Dores, que ninguém dava nada
por ela, era uma das mais duras e que parecia mais empenhada na defesa.
Afinal o portão lascou; um grande rombo abriu-se logo; caíram tábuas; e os quatro primeiros urbanos
que se precipitaram dentro foram recebidos a pedradas e garrafas vazias. Seguiram-se outros. Havia
uns vinte. Um saco de cal, despejado sobre eles, desnorteou-os.
Principiou então o salseiro grosso. Os sabres não podiam alcançar ninguém por entre a trincheira; ao
passo que os projetis, arremessados lá de dentro, desbaratavam o inimigo. Já o sargento tinha a
cabeça partida e duas praças abandonavam o campo, à falta de ar.
Era impossível invadir aquele baluarte com tão poucos elementos, mas a polícia teimava, não mais
por obrigação que por necessidade pessoal de desforço. Semelhante resistência os humilhava. Se
tivessem espingardas fariam fogo. O único deles que conseguiu trepar à barricada rolou de lá abaixo
sob uma carga de pau que teve de ser carregado para a rua pelos companheiros. O Bruno, todo sujo
de sangue, estava agora armado de um refle e o Porfiro, mestre na capoeiragem, tinha na cabeça uma
barretina de urbano.
- Fora os morcegos!
- Fora! Fora!
E, a cada exclamação, tome pedra! tome lenha! tome cal! tome fundo de garrafa!
Os apitos estridulavam mais e mais fortes.
Nessa ocasião, porém, Nenen gritou, correndo na direção da barricada.
- Acudam aqui! Acudam aqui! Há fogo no número 12. Está saindo fumaça!
- Fogo!
A esse grito um pânico geral apoderou-se dos moradores do cortiço. Um incêndio lamberia aquelas
cem casinhas enquanto o diabo esfrega um olho!
Fez-se logo medonha confusão. Cada qual pensou em salvar o que era seu. E os policiais,
aproveitando o terror dos adversários, avançaram com ímpeto, levando na frente o que encontravam
e penetrando enfim no infernal reduto, a dar espadeiradas para a direita e para a esquerda, como
quem destroça uma boiada. A multidão atropelava-se, desembestando num alarido. Uns fugiam à
prisão; outros cuidavam em defender a casa. Mas as praças, loucas de cólera, metiam dentro as
portas e iam invadindo e quebrando tudo, sequiosas de vingança.
Nisto, roncou no espaço a trovoada. O vento do norte zuniu mais estridente e um grande pé-d’água
desabou cerrado.
Continua página 68...
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Leia também:
O Cortiço - X: No entanto, começou a imaginar
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Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.
Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.
Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sua sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
Em 1895 ingressou na diplomacia, momento em que praticamente cessa sua atividade literária. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.
Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.
Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.
Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sua sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
Em 1895 ingressou na diplomacia, momento em que praticamente cessa sua atividade literária. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.
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