Aluísio Azevedo
XII
.
Pombinha ergueu-se de um pulo e abriu de carreira para casa. No lugar em que estivera deitada o
capim verde ficou matizado de pontos vermelhos. A mãe lavava à tina, ela chamou-a com instância,
enfiando cheia de alvoroço pelo número 15. E aí, sem uma palavra, ergueu as saias do vestido e
expôs a Dona Isabel as suas fraldas ensanguentadas.
- Veio?! perguntou a velha com um grito arrancado do fundo da alma.
A rapariga meneou a cabeça afirmativamente, sorrindo feliz e enrubescida.
As lágrimas saltaram dos olhos da lavadeira.
- Bendito e louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! exclamou ela, caindo de joelhos defronte da
menina e erguendo para Deus o rosto e as mãos trêmulas.
Depois abraçou-se às pernas da filha e, no arrebatamento de sua comoção, beijou-lhe repetidas vezes
a barriga e parecia querer beijar também aquele sangue abençoado, que lhes abria os horizontes da
vida, que lhes garantia o futuro; aquele sangue bom, que descia do céu, como a chuva benfazeja
sobre uma pobre terra esterilizada pela seca.
Não se pôde conter: enquanto Pombinha mudava de roupa, saiu ela ao pátio, apregoando aos quatro
ventos a linda noticia. E, se não fora a formal oposição da menina, teria passeado em triunfo a
camisa ensanguentada, para que todos a vissem bem e para que todos a adorassem, entre hinos de
amor, que nem a uma verônica sagrada de um Cristo.
- Minha filha é mulher! Minha filha é mulher!
O fato abalou o coração do cortiço, as duas receberam parabéns e felicitações. Dona Isabel acendeu
velas de cera à frente do seu oratório, e nesse dia não pegou mais no trabalho, ficou estonteada, sem
saber o que fazia, a entrar e a sair de casa, radiante de ventura. De cada vez que passava junto da
filha dava-lhe um beijo na cabeça e em segredo recomendava-lhe todo o cuidado. “Que não
apanhasse umidade! que não bebesse coisas frias! Que se agasalhasse o melhor possível e, no caso
de sentir o corpo mole, que se metesse logo na cama! Qualquer imprudência poderia ser fatal!...” O
seu empenho era pôr o João da Costa, no mesmo instante, ao corrente da grande novidade e pedir-lhe
que marcasse logo o dia do casamento; a menina entendia que não, que era feio, mas a mãe arranjou
um portador e mandou chamar o rapaz com urgência. Ele apareceu à tarde. A velha convidara gente
para jantar; matou duas galinhas, comprou garrafas de vinho, e, à noite, serviu, às nove horas, um
chá com biscoitos. Nenen e a das Dores apresentaram-se em trajos de festa; fez-se muita cerimônia;
conversou-se em voz baixa, formando todos em volta de Pombinha uma solícita cadeia de agrados,
uma respeitosa preocupação de bons desejos, a que ela respondia sorrindo comovida, como que
exalando da frescura da sua virgindade um vitorioso aroma de flor que desabrocha.
E a partir desse dia Dona Isabel mudou completamente. As suas rugas alegraram-se; ouviam-na
cantarolar pela manhã, enquanto varria a casa e espanava os móveis.
Não obstante, depois do tremendo conflito que acabou em navalhada, uma tristeza ia minando uma
grande parte da estalagem. Já se não faziam as quentes noitadas de violão e dança ao relento. A Rita
andava aborrecida e concentrada, desde que Jerônimo partiu para a Ordem; Firmo fora intimado pelo
vendeiro a que lhe não pusesse, nunca mais, os pés em casa, sob pena de ser entregue à polícia;
Piedade, que vivia a dar ais, carpindo a ausência do. marido, ainda ficou mais consumida com a
primeira visita que lhe fez ao hospital; encontrou-o frio e sem uma palavra de ternura para ela,
deixando até perceber a sua impaciência para ouvir falar da outra, daquela maldita mulata dos
diabos, que, no fim de contas, era a única culpada de tudo aquilo e havia de ser a sua perdição e mais
do seu homem! Quando voltou de lá atirou-se à cama, a soluçar sem alívio, e nessa noite não pôde
pregar olho, senão já pela madrugada. Um negro desgosto comia-a por dentro, como tubérculos de
tísica, e tirava-lhe a vontade para tudo que não fosse chorar.
Outro que também, coitado! arrastava a vida muito triste, era o Bruno. A mulher, que a princípio não
lhe fizera grande falta, agora o torturava com a sua distância; um mês depois da separação, o
desgraçado já não podia esconder o seu sofrimento e ralava-se de saudades. A Bruxa, a pedido dele,
tirou a sorte nas cartas e disse-lhe misteriosamente que Leocádia ainda o amava.
Só Dona Isabel e a filha andavam deveras satisfeitas. Essas sim! nunca tinham tido uma época tão
boa e tão esperançosa. Pombinha abandonara o curso de dança; o noivo ia agora visitá-la,
invariavelmente, todas as noites; chegava sempre às sete horas e demorava-se até às dez; davam-lhe
café numa xícara especial, de porcelana; às vezes jogavam a bisca, e ele mandava buscar, de sua
algibeira, uma garrafa de cerveja alemã, e ficavam a conversar os três, cada qual defronte do seu
copo, a respeito dos projetos de felicidade comum; outras vezes o Costa, sempre muito respeitador,
muito bom rapaz, acendia o seu charuto da Bahia e deixava-se cair numa pasmaceira, a olhar para a
moça, todo embebido nela. Pombinha punha alegrias naqueles serões com as suas garrulices de
pomba que prepara o ninho. Depois do seu idílio com o sol fazia-se muito amiga da existência,
sorvendo a vida em haustos largos, como quem acaba de sair de uma prisão e saboreia o ar livre.
Volvia-se carnuda e cheia, sazonava que nem uma fruta que nos provoca o apetite de morder. Dona
Isabel, ao lado deles, toscanejava do meio para o fim da visita, traçando cruzes na boca e
afugentando os bocejos com voluptuosas pitadas da sua insigne tabaqueira.
Fixado o dia do casamento, o assunto inalterável da conversa era o enxoval da noiva e a casinha que
o Costa preparava para a lua-de-mel. Iriam todos três morar juntos; teriam cozinheiro e uma criada
que lavasse e engomasse. O rapaz trouxera peças de linho e de algodão, e ali, à luz amarela do velho
candeeiro de querosene, enquanto a mãe talhava camisas e lençóis, a filha cosia valentemente numa
máquina que lhe oferecera o noivo.
Uma vez, eram duas da tarde, ela pregava rendas numa fronha de almofada, quando o Bruno, cheio
de hesitações, a coçar os cabelos da nuca, pálido e mal asseado, disse-lhe, encostando-se à ombreira
da porta:
- Ora, nham Pombinha... tinha-lhe um servicinho a pedir... mas vosmecezinha anda agora tão tomada
com o seu enxoval e não há de querer dar-se a maços...
- Que queres tu, Bruno?
- N’é nada, é que precisava que vosmecezinha me fizesse uma carta pr’ aquele diabo... mas já se vê
que não tem cabimento... Fica pr’ao depois!
- Uma carta para tua mulher, não é?
- Coitada! É mais doida do que ruim! Pois se a gente até dos brutos tem pena!...
- Pois estás servido. Queres para já?
- Não vale estorvar! Continue seu servicinho! Eu volto pr’outra vez!...
- Não! anda cá, entra! O que se tem de fazer, faz-se logo!
- Deus lhe pague! Vosmecezinha é mesmo um anjo! Não sei a quem se chegue a gente ao depois que
já lhe não tivermos cá!...
E continuou a louvar a bondade da rapariga, enquanto esta, toda serviçal, preparava numa mesinha
redonda os seus apetrechos de escrita.
- Vamos lá, Bruno! que queres tu mandar dizer à Leocádia?
- Diga-lhe, antes de mais nada, que aquilo que quebrei dela, que dou outro! Que ela fez mal em
quebrar também o que era meu, mas que fecho os olhos! Águas passadas não movem moinho! Que
sei que ela agora está desempregada e aos paus; que está a dever para mais de mês na estalagem; mas
que não precisa dar cabeçadas: que me mande cá o senhorio, que me entendo com ele. Que acho bom
que ela deixe a casa da crioula onde come, porque a mulher já se queixou e já disse, a quem quis
ouvir, que aquilo lá não era ponto de vadios e mulheres de má vida! Que ela, se tivesse um pouco de
tino, nem precisava estar às migalhas dos outros, que eu na forja fazia para a trazer de barriga cheia e
mais aos filhos que Deus mandasse... - Principiava a tomar calor. - Que a culpada de tudo isto é só
ela e mais ninguém! tivesse um bocado de juízo e não precisava envergonhar a cara por ai...
- Isso já está dito, Bruno!
- Pois arrume-lhe outra vez a ver se ela toma brio!
- E que mais?
- Que lhe não quero mal, nem lhe rogo pragas, mas que é bem feito que ela amargue um pouco do
pão do diabo, pra ficar sabendo que uma mulher direita não deve olhar se não pra seu marido; e que,
se ela não fosse tão maluca...
- Já aí vai você repetir inda uma vez a mesma cantiga!...
- Mas diga-lhe sempre, tenha paciência, nham Pombinha!... Que ainda estaria aqui, comigo, como
dantes, sem aguentar repelões de estranhos!...
- Adiante, Bruno!
- Diga-lhe...
E interrompeu-se.
Ora, que mais ele tinha a dizer?...
Coçou a cabeça.
- Veja, Bruno, você é quem sabe o que precisa escrever a sua mulher...
- Diga-lhe...
Não se animava.
- Que...
- Diga-lhe... Não! não lhe diga mais nada!...
- Posso então fechar a carta?...
- Está bom... resmungou o ferreiro, decidindo-se. Vá lá! Diga-lhe que...
- Que...
Houve um silêncio, no qual o desgraçado parecia arrancar de dentro uma frase que, no entanto, era a
única ideia que o levava a dirigir-se à mulher. Afinal, depois de coçar mais vivamente a cabeça,
gaguejou com a voz estrangulada de soluços:
- Diga-lhe que... se ela quiser tornar pra minha companhia... que pode vir... Eu esqueço tudo!
Pombinha, impressionada pela transformação da voz dele, levantou o rosto e viu que as lágrimas lhe
desfilavam duas a duas, três a três, pela cara, indo afogar-se-lhe na moita cerdosa das barbas. E,
coisa estranha, ela, que escrevera tantas cartas naquelas mesmas condições; que tantas vezes
presenciara o choro rude de outros muitos trabalhadores do cortiço, sobressaltava-se agora com os
desalentados soluços do ferreiro.
Porque, só depois que o sol lhe abençoou o ventre; depois que nas suas entranhas ela sentiu o
primeiro grito de sangue de mulher, teve olhos para essas violentas misérias dolorosas, a que os
poetas davam o bonito nome de amor. A sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara
inesperadamente, atingindo de súbito, em pleno desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e
surpreendia. Não a comovera tanto a revolução física. Como que naquele instante o mundo inteiro se
despia à sua vista, de improviso esclarecida, patenteando-lhe todos os segredos das suas paixões.
Agora, encarando as lágrimas do Bruno, ela compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a
fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas esmagadoras, mas que se deixavam
encabrestar e conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea.
Aquela pobre flor de cortiço, escapando à estupidez do meio em que desabotoou, tinha de ser
fatalmente vitima da própria inteligência. À mingua de educação, seu espírito trabalhou à revelia, e
atraiçoou-a, obrigando-a a tirar da substância caprichosa da sua fantasia de moça ignorante e viva a
explicação de tudo que lhe não ensinaram a ver e sentir.
Bruno retirou-se com a carta. Pombinha pousou os cotovelos na mesa e tulipou as mãos contra o
rosto, a cismar nos homens.
Que estranho poder era esse, que a mulher exercia sobre eles, a tal ponto, que os infelizes,
carregados de desonra e de ludíbrio, ainda vinham covardes e suplicantes mendigar-lhe o perdão pelo
mal que ela lhes fizera?...
E surgiu-lhe então uma ideia bem clara da sua própria força e do seu próprio valor.
Sorriu.
E no seu sorriso já havia garras.
Uma aluvião de cenas, que ela jamais tentara explicar e que até ai jaziam esquecidas nos meandros
do seu passado, apresentavam-se agora nítidas e transparentes. Compreendeu como era que certos
velhos respeitáveis, cujas fotografias Léonie lhe mostrara no dia que passaram juntas, deixavam-se
vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com a honra, os bens, e
até com a própria vida, se a prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou a
sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava
senhor e que no entanto fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo
que, para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo
que a mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu império, endeusada e
querida, prodigalizando martírios, que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os
deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam.
- Ah! homens! homens!... sussurrou ela de envolta com um suspiro.
E pegou de novo na costura, deixando que o pensamento vadiasse à solta, enquanto os dedos iam
maquinalmente pregando as rendas naquela almofada, em que a sua cabeça teria de repousar para
receber o primeiro beijo genital.
Num só lance de vista, como quem apanha uma esfera entre as pontas de um compasso, mediu com
as antenas da sua perspicácia mulheril toda aquela esterqueira, onde ela, depois de se arrastar por
muito tempo como larva, um belo dia acordou borboleta à luz do sol. E sentiu diante dos olhos
aquela massa informe de machos e fêmeas, a comichar, a fremir concupiscente, sufocando-se uns aos
outros. E viu o Firmo e o Jerônimo atassalharem-se, como dois cães que disputam uma cadela da
rua; e viu o Miranda, lá defronte, subalterno ao lado da esposa infiel, que se divertia a fazê-lo dançar
a seus pés seguro pelos chifres; e viu o Domingos, que fora da venda, furtando horas ao sono, depois
de um trabalho de burro, e perdendo o seu emprego e as economias ajuntadas com sacrifício, só para
ter um instante de luxúria entre as pernas de uma desgraçadinha irresponsável e tola; e tornou a ver o
Bruno a soluçar pela mulher; e outros ferreiros e hortelões, e cavouqueiros, e trabalhadores de toda a
espécie, um exército de bestas sensuais, cujos segredos ela possuía, cujas íntimas correspondências
escrevera dia a dia, cujos corações conhecia como as palmas das mãos, porque a sua escrivaninha era
um pequeno confessionário, onde toda a salsugem e todas as fezes daquela praia de despejo foram
arremessadas espumantes de dor e aljofradas de lágrimas.
E na sua alma enfermiça e aleijada, no seu espírito rebelde de flor mimosa e peregrina criada num
monturo, violeta infeliz, que um estrume forte demais para ela atrofiara, a moça pressentiu bem claro
que nunca daria de si ao marido que ia ter uma companheira amiga, leal e dedicada; pressentiu que
nunca o respeitaria sinceramente como a um ser superior por quem damos a vida; que nunca lhe
votaria entusiasmo, e por conseguinte nunca lhe teria amor; desse de que ela se sentia capaz de amar
alguém, se na terra houvera homens dignos disso. Ah! não o amaria decerto, porque o Costa era
como os outros, passivo e resignado, aceitando a existência que lhe impunham as circunstâncias, sem
ideais próprios, sem temeridades de revolta, sem atrevimentos de ambição, sem vícios trágicos, sem
capacidade para grandes crimes; era mais um animal que viera ao mundo para propagar a espécie;
um pobre diabo enfim que já a adorava cegamente e que mais tarde, com ou sem razão, derramaria
aquelas mesmas lágrimas, ridículas e vergonhosas, que ela vira decorrendo em quentes camarinhas
pelas ásperas e maltratadas barbas do marido de Leocádia.
E não obstante, até então, aquele matrimônio era o seu sonho dourado. Pois agora, nas vésperas de
obtê-lo, sentia repugnância em dar-se ao noivo, e, se não fora a mãe, seria muito capaz de dissolver o
ajuste.
Mas, daí a uma semana, a estalagem era toda em rebuliço desde logo pela manhã. Só se falava em
casamento; havia em cada olhar um sanguíneo reflexo de noites nupciais. Desfolharam-se rosas à
porta da Pombinha. Às onze horas parou um carro à entrada do cortiço com uma senhora gorda,
vestida de seda cor de pérola. Era a madrinha que vinha buscar a noiva para a igreja de São João
Batista. A cerimônia estava marcada para o meio-dia. Toda esta formalidade embatucava os
circunstantes, que se alinhavam imóveis defronte do número 15, com as mãos cruzadas atrás, o rosto
paralisado por uma comoção respeitosa; alguns sorriam enternecidos; quase todos tinham os olhos
ressumbrados de água.
Pombinha surgiu à porta de casa, já pronta para desferir o grande voo; de véu e grinalda, toda de
branco, vaporosa, linda. Parecia comovida; despedia-se dos companheiros atirando-lhes beijos com o
seu ramalhete de flores artificiais. Dona Isabel chorava como criança, abraçando as amigas, uma por
uma.
- Deus lhe ponha virtude! exclamou a Machona. E que lhe dê um bom parto, quando vier a primeira
barriga.
A noiva sorria, de olhos baixos. Uma fímbria de desdém toldava-lhe a rosada candura de seus lábios.
Encaminhou-se para o portão, cercada pela bênção de toda aquela gente, cujas lágrimas rebentaram
afinal, feliz cada um por vê-la feliz e em caminho da posição que lhe competia na sociedade.
- Não! aquela não nascera para isto!... sentenciou o Alexandre, retorcendo o reluzente bigode. Seria
lástima se a deixassem ficar aqui!
O velho Libório, cascalhando uma risada decrépita, queixou-se de que o maganão do Costa lhe
passara a perna roubando-lhe a namorada.
Ingrata! Ele que estava disposto a fazer uma asneira!
Nenen deu uma corrida até à noiva, na ocasião em que esta chegava à carruagem e, estalando-lhe um
beijo na boca, pediu-lhe com empenho que se não esquecesse de mandar-lhe um botão da sua
grinalda de flores de laranjeira.
- Diz que é muito bom para quem deseja casar!... e eu tenho tanto medo de ficar solteira!... É todo o
meu susto!
Continua página 79...
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Leia também:
O Cortiço - XII: Pombinha ergueu-se
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Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.
Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.
Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sua sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
Em 1895 ingressou na diplomacia, momento em que praticamente cessa sua atividade literária. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.
Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.
Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.
Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sua sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
Em 1895 ingressou na diplomacia, momento em que praticamente cessa sua atividade literária. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.
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