quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: A bolsa (02)

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1

1
Estudos de Costumes 
- Cenas da Vida Privada



A bolsa

     A fim de fazer compreender tudo o que essa cena podia ter de interessante e de inesperado para o pintor, devemos acrescentar que fazia apenas alguns dias que ele tinha instalado o ateliê nos altos daquela casa, situada no lugar mais obscuro e, portanto, o mais lamacento da rue de Suresnes, quase em frente à Igreja de la Madeleine, a dois passos de seu apartamento que se achava na rua dos Champs-Élysées. A celebridade que o seu talento lhe valera fizera dele um dos mais queridos artistas da França; começava a não mais sentir apertos de dinheiro e, segundo sua própria expressão, gozava das suas últimas misérias. Em vez de ir trabalhar num desses ateliês situados perto das barreiras e cujo aluguel módico estava antigamente em relação com a escassez de seus recursos, satisfizera um desejo que nele renascia diariamente, evitando ademais uma longa caminhada e a perda de tempo que para ele se tornara mais precioso do que nunca.
     Ninguém no mundo inspiraria tanto interesse como Hipólito Schinner, se consentisse em se fazer conhecer, mas não era homem que confiasse levianamente os segredos de sua vida. Era o ídolo de uma mãe pobre que o educara à custa das mais duras privações. A srta. Schinner, filha de um granjeiro alsaciano, nunca fora casada. Sua alma terna fora em outros tempos cruelmente espezinhada por um homem rico, que não se distinguia por grandes delicadezas no amor. No dia em que, moça e em todo o esplendor de sua beleza, em toda a glória de sua vida, ela sofreu, à custa de seu coração e das suas belas ilusões, esse desencanto que nos atinge tão lentamente e tão depressa, pois só queremos crer no mal o mais tarde possível, parecendo-nos chegar esse momento demasiado cedo, aquele dia foi um século de reflexões, sendo também o dia dos pensamentos religiosos e da resignação. Recusou as esmolas do homem que a traíra e renunciou à sociedade, fazendo de sua falta novo motivo de orgulho. Entregou-se toda ao amor materno, pedindo a este, em troca dos gozos sociais a que renunciava, todas as suas delícias. Viveu de seu trabalho, acumulando um tesouro em seu filho. Por isso, mais tarde, certo dia, uma hora pagou-lhe os longos e lentos sacrifícios de sua indigência. Na última exposição, seu filho recebera a cruz da Legião de Honra. Os jornais, unânimes em favor de um talento ignorado, ainda reboavam de elogios sinceros. Os próprios artistas consagravam Schinner como um mestre, e os negociantes de pintura cobriam seus quadros de ouro. Aos vinte e cinco anos, Hipólito Schinner, ao qual a mãe transmitira sua alma de mulher, tinha, melhor do que nunca, compreendido sua posição no mundo. Querendo restituir à mãe os gozos de que a sociedade a tinha privado por tanto tempo, vivia para ela esperando, à força de glória e de fortuna, vê- la um dia feliz, rica, considerada, cercada de homens célebres. Schinner escolhera, pois, seus amigos entre os homens mais honrados e mais distintos. Difícil na escolha de suas relações, ele queria elevar ainda mais a posição que seu talento já erguera tão alto. O trabalho, a que se dedicava desde a mocidade, forçando-o a permanecer na solidão, mãe dos grandes pensamentos, deixara-o nas belas crenças que ornam os primeiros dias da vida. Sua alma adolescente não desconhecia nenhum dos mil pudores que fazem de um rapaz moço um ser à parte, cujo coração abunda em felicidades, em poesias, em esperanças virgens, fracas para os embotados, mas profundas porque são simples. Fora dotado dessas maneiras meigas e polidas que sentam tão bem à alma e seduzem até mesmo aqueles que as não compreendem. Era bem-feito de corpo. Sua voz, que vinha do coração, despertava nos outros nobres sentimentos e evidenciava uma modéstia verdadeira por um certo candor na pronúncia. Vendo-o, todos se sentiam arrastados para ele, por uma dessas atrações morais que os sábios, felizmente, não sabem analisar; se o soubessem, encontrariam, talvez, algum fenômeno de galvanismo ou o efeito de não sei que fluido e formulariam nossos sentimentos por proporções de oxigênio e de eletricidade. Esses detalhes farão, talvez, compreender às pessoas ousadas por gênio e aos homens bem engravatados o motivo pelo qual, durante a ausência do porteiro, a quem tinha mandado em busca de um carro, no fim da rue de Madeleine, Hipólito Schinner não fez nenhuma pergunta à porteira a respeito das duas pessoas, cujo bom coração lhe fora patenteado. Mas, embora respondesse apenas por um sim ou por um não às perguntas, naturais em semelhante ocorrência, que lhe foram feitas por aquela mulher sobre o seu acidente e sobre a intervenção oficiosa das locatárias do quarto andar, não pôde impedi-la de obedecer ao instinto dos porteiros: ela falou-lhe das duas desconhecidas, segundo os interesses de sua política e segundo as opiniões subterrâneas do cubículo.

— Ah! — disse ela —, foram com certeza a srta. Leseigneur e a mãe, que moram aqui há quatro anos. Ainda não sabemos em que se ocupam essas senhoras; de manhã, e só até o meio-dia, vem uma velha criada, meio surda e tão calada como um muro, fazer a arrumação do apartamento; à noite, dois ou três velhos senhores, decorados como o senhor, sendo que um tem carruagem e lacaios, e que dizem ter sessenta mil libras de renda, vêm visitá-las e ficam, às vezes, até muito tarde. Aliás, são moradoras bem sossegadas, como o senhor. Ademais, são econômicas, vivem com muito pouco. Assim que chega uma conta elas pagam-na. É engraçado, senhor, a mãe tem nome diferente do da filha. Ah! Quando elas vão às Tulherias, a senhorita vai toda elegante! E não sai nem uma vez sem ser seguida por moços aos quais ela dá com a porta na cara quando entra. E faz bem. O proprietário não consentiria...

     O carro chegara, Hipólito não quis ouvir o resto e foi para casa. Sua mãe, a quem ele contou o incidente, fez um novo curativo na ferida e não consentiu que ele voltasse ao ateliê no dia seguinte. Tendo vindo um médico, fez este diversas prescrições, e Hipólito ficou três dias em casa. Durante essa reclusão, sua imaginação ociosa lembrou-lhe vivamente, e de modo fragmentado, os detalhes da cena que se seguiu ao seu desmaio. O perfil da moça contrastava fortemente com as trevas de sua visão interior: revia o semblante emurchecido da mãe, ou sentia ainda as mãos de Adelaide; tornava a ver um gesto que, a princípio, pouco o impressionara, mas cuja graça deliciosa a recordação punha em relevo; depois, uma atitude, na qual os sons de uma voz melodiosa, embelezada pela distância da memória, reapareciam de súbito, como esses objetos que, mergulhados no fundo da água, emergem à superfície. Por isso, no dia em que pôde recomeçar seu trabalho, foi cedo para o ateliê; mas a visita que incontestavelmente tinha o direito de fazer às suas vizinhas foi a causa verdadeira de sua pressa. Já se ia esquecendo dos quadros começados. No momento em que uma paixão se desfaz do seu casulo, encontram-se prazeres inexplicáveis, que os que amaram compreendem. Por isso, algumas pessoas saberão por que o pintor subiu lentamente os degraus do quarto andar e conhecerão o segredo das rápidas pulsações que agitavam seu coração no momento em que ele viu a porta escura do modesto apartamento onde a srta. Leseigneur morava. Essa moça, que não usava o nome da mãe, despertava mil simpatias no jovem pintor; ele queria ver, entre ambos, similitudes de situação e atribuía-lhe a desgraça de sua própria origem. Enquanto trabalhava, Hipólito entregou-se complacentemente a pensamentos de amor e fez bastante barulho para obrigar as duas senhoritas a se ocuparem com ele, da mesma forma que ele se ocupava com elas. Ficou até muito tarde no ateliê, aí jantando, e depois, cerca das sete horas, foi ter com as vizinhas.
     Nenhum pintor de costumes se animou, talvez por pudor, a nos iniciar na intimidade de certas existências parisienses, no segredo dessas moradias, de onde saem tão frescas, tão elegantes toilettes, mulheres tão brilhantes que, exteriormente ricas, mostram em tudo sinais de uma fortuna equívoca. Se a pintura está aqui desenhada de modo demasiado franco, se nela achardes prolixidade, não acuseis a descrição que forma, por assim dizer, corpo com a história, pois o aspecto do apartamento habitado por suas vizinhas muito influiu nos sentimentos e nas esperanças de Hipólito Schinner.
     A casa pertencia a um desses proprietários nos quais preexiste um profundo horror às reformas e aos embelezamentos, um desses homens que consideram sua posição de proprietário parisiense como um estado. Na grande cadeia das espécies morais, essa gente ocupa uma situação intermédia entre o avarento e o usurário. Otimistas por cálculo, todos eles são fiéis ao status quo da Áustria. Se falardes em deslocar um armário de parede ou uma porta, em abrir o mais indispensável dos ventiladores, seus olhos brilham, revoluciona-se-lhes a bílis, empinam-se como cavalos assustados. Quando o vento derruba algum espigão de suas chaminés, ficam doentes e se privam de ir ao Ginásio[1] ou à Porte -Saint-Martin,[2] por causa das reparações a fazer. Hipólito que, a propósito de certos embelezamentos no seu ateliê, tivera, grátis, a representação de uma cena cômica com o sr. Molineux, não se admirou dos tons negros e gordurosos, das marcas oleosas, das manchas e outros acessórios bastante desagradáveis que ornavam o forro de madeira das peças. Aliás, esses estigmas de miséria não deixam de ter certa poesia para um artista.
     A srta. Leseigneur veio ela mesma abrir a porta. Ao reconhecer o jovem pintor, cumprimentou-o; depois, ao mesmo tempo, com essa destreza parisiense e essa presença de espírito que o orgulho dá, virou-se para fechar a porta de uma divisão envidraçada, através da qual Hipólito poderia ter visto algumas peças de roupa, estendidas em cordas, por cima dos fogões econômicos, uma velha cama de campanha, brasas, carvão, ferro de passar, o filtro, a louça e todos os utensílios peculiares a uma casa modesta. Cortinas de musselina bem limpas ocultavam cuidadosamente aquele cafarnaum, termo usado para designar familiarmente essas espécies de laboratórios, aliás mal iluminados por pequenas aberturas que dão para os pátios vizinhos. Com o rápido olhar dos artistas, Hipólito viu a destinação, os móveis, o conjunto e o estado dessa primeira peça dividida em duas. A parte decorosa, que servia ao mesmo tempo de antecâmara e de sala de jantar, estava forrada com um velho papel cor de aurora, com margens aveludadas, fabricadas com certeza por Réveillon,[3] e cujos buracos e manchas tinham sido cuidadosamente dissimulados sob pedaços de lacre. Gravuras representando as Batalhas de Alexandre, por Lebrun,[4] mas em quadros desdourados, guarneciam simetricamente as paredes. No meio da peça havia uma mesa de acaju maciço, de forma antiquada e de bordos gastos. Uma pequena estufa, cujo cano reto mal se via, ficava diante da lareira, cuja abertura continha um armário. Por um estranho contraste, as cadeiras apresentavam vestígios de um passado esplendor e eram de acaju esculpido, mas o marroquim vermelho dos assentos, as tachas douradas e os canutilhos mostravam cicatrizes tão numerosas como as dos velhos sargentos da guarda imperial. Aquela peça servia de museu para certas coisas que não se encontram senão nessas espécies de lares anfíbios, objetos sem nome, que participam ao mesmo tempo do luxo e da miséria. Entre outras curiosidades, Hipólito notou um óculo de longo alcance, magnificamente ornado, suspenso acima do pequeno espelho esverdeado que decorava a lareira. Para completar esse estranho mobiliário, havia entre a chaminé e o tabique um feio aparador pintado de modo a imitar o acaju, que de todas as madeiras é a que menos se consegue falsificar. Mas, quer o mosaico vermelho e escorregadio, quer os tapetes ordinários colocados diante das cadeiras, os móveis, tudo reluzia com aquele asseio de esfregação que dá um falso brilho às velharias, acentuando ainda mais seus estragos, sua idade e os longos serviços prestados. Reinava nessa peça um olor indefinível, resultante da mescla das exalações do cafarnaum com os vapores da sala de jantar e os da escada, embora a janela estivesse entreaberta e o ar da rua agitasse as cortinas de percal cuidadosamente estiradas, de modo a ocultar o vão onde os precedentes inquilinos tinham assinalado sua presença por várias incrustações, espécie de afrescos domésticos. Adelaide abriu logo a porta da outra sala, onde introduziu o pintor com certo prazer. Hipólito, que em outros tempos vira em casa de sua mãe os mesmos sinais de indigência, notou-os com a singular vivacidade de impressão que caracteriza as primeiras aquisições de nossa memória e penetrou, melhor do que outro qualquer, nos detalhes daquela existência. Ao reconhecer as coisas de sua infância, aquele bom rapaz não sentiu nem desprezo dessa infelicidade oculta, nem orgulho do luxo que acabava de conquistar para sua mãe.

— Então, senhor, quero crer que não sente mais os efeitos de sua queda, não? — disse-lhe a velha, levantando-se de uma antiga poltrona, colocada no canto da lareira e oferecendo-lhe uma cadeira. 
— Não, senhora. Venho agradecer-lhe os cuidados que me proporcionou, e sobretudo à senhorita que me ouviu cair. 

     Ao dizer essa frase, impregnada de adorável estupidez, que dá à alma as primeiras perturbações de um amor verdadeiro, Hipólito olhou para a moça. Adelaide estava acendendo a lâmpada de dupla corrente de ar, sem dúvida para fazer desaparecer uma vela posta num grande castiçal de cobre, adornada com algumas estrias salientes, devidas a um escoamento extraordinário de cera. Inclinou ligeiramente a cabeça, foi colocar o castiçal na antecâmara, voltou para pôr a lâmpada em cima da lareira e sentou-se ao lado da mãe, um pouco atrás do pintor, a fim de poder olhá-lo à vontade, fingindo estar muito ocupada com a luz da lâmpada, que, devido à umidade do vidro embaciado, estralejava por estar com a mecha queimada e mal cortada. Avistando o grande espelho que ornava a lareira, Hipólito para ele dirigiu imediatamente os olhos, a fim de admirar Adelaide. O pequeno ardil da moça serviu, portanto, apenas para embaraçar os dois. Conversando com a sra. Leseigneur, pois foi este nome que Hipólito se arriscou a dar à velha senhora, ele examinou o salão, mas de modo discreto e disfarçado. Viam-se apenas as figuras egípcias da grelha de ferro, numa lareira cheia de cinza, onde dois tições tentavam reunir-se diante de uma falsa acha de lenha de terracota, tão cuidadosamente enterrada como o poderia estar o tesouro de um avaro. Um velho tapete de Aubusson, bem remendado, bem passado, gasto como o casaco de um inválido, não recobria todo o mosaico, cuja frialdade se sentia nos pés. As paredes tinham como adorno um papel avermelhado, fingindo um estofo de lampa com desenhos amarelos. No centro da parede oposta às janelas, o pintor viu uma fenda e os rasgões produzidos no papel pelas duas portas de uma alcova onde, sem dúvida, dormia a sra. Leseigneur. Um sofá, colocado diante dessa abertura secreta, não a dissimulava de modo completo. Em frente à lareira, por cima de uma cômoda de acaju, cujos ornamentos não deixavam de ter certa riqueza e gosto, ostentava-se o retrato de um militar de alta patente, que a escassez de luz não permitiu ao pintor distinguir, mas, pelo que viu, achou que aquele horrível borrão tivesse sido pintado na China. Nas janelas, cortinas de seda encarnada estavam descoradas como os móveis de estofo amarelo e encarnado daquele salão para duplo fim. Em cima do mármore da cômoda, uma bandeja preciosa de malaquita continha uma dúzia de xícaras de café, com pinturas magníficas e fabricadas sem dúvida em Sèvres. Em cima da lareira, erguia-se o eterno relógio estilo Império, representando um guerreiro guiando os quatro cavalos de um carro, cuja roda tinha em cada raio o número de uma hora. As velas dos castiçais estavam amarelecidas pela fumaça, e, em cada canto do alizar, havia um vaso de porcelana coroado de flores artificiais, cheias de poeira e cercadas de musgo. No meio da peça, Hipólito notou uma mesa de jogo preparada e cartas novas. Para um observador, havia um não sei quê de desolador no espetáculo daquela miséria, que se assemelhava à maquiagem de uma mulher velha que ainda quer se dar ares de moça. Diante desse espetáculo, qualquer homem de bom-senso teria, de início e secretamente, estabelecido o seguinte dilema: ou essas duas mulheres são a própria probidade, ou vivem de expedientes e do jogo. Mas, ao ver Adelaide, um rapaz tão puro como Schinner só podia acreditar na mais perfeita inocência e atribuir às incoerências daquele mobiliário os mais honrosos motivos.

— Minha filha — disse a velha dama à moça —, estou com frio, acende o fogo e traze o meu xale.

     Adelaide foi a um quarto contíguo ao salão, no qual provavelmente dormia, e voltou trazendo para a mãe um xale de cachemira que, quando novo, devia ter custado um preço elevado, e cujos desenhos eram indianos, mas que, agora velho, desbotado e cheio de cerziduras, harmonizava-se perfeitamente com os móveis. A sra. Leseigneur envolveu-se artisticamente nele e com a destreza de uma mulher velha que queria fazer crer na verdade de suas palavras. A rapariga correu celeremente ao cafarnaum e voltou com um punhado de gravetos que galhardamente atirou no fogo para reacendê-lo.
     Seria bastante difícil reproduzir a conversa havida entre aquelas três pessoas. Guiado pelo tato adquirido pelas desgraças sofridas na infância, Hipólito não se atrevia a fazer a menor observação relativa à situação de suas vizinhas, ao ver em torno os sintomas de uma penúria tão mal disfarçada. A mais simples pergunta teria sido indiscreta e não devia ser feita senão por uma amizade já velha. Não obstante, o pintor estava profundamente preocupado com aquela miséria oculta, e sua alma generosa sofria com aquilo, mas sabendo o que qualquer espécie de piedade, mesmo a mais amistosa, pode ter de ofensivo, ele se sentia constrangido pelo desacordo que havia entre os seus pensamentos e as suas palavras.

continua pág 398...
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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.
Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844. Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).
Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava. De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Balzac, Honoré de, 1799-1850.
A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac; orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São Paulo: Globo, 2012.

(A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1 0.000 kb; ePUB
1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série.
12-13086 cdd-843
Índices para catálogo sistemático:
1. Romances: Literatura francesa 843

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Leia também:
"Chat-Qui-Pelote"
A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada - Ao "Chat-Qui-Pelote" (1)
A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (57)
A bolsa
A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: A bolsa (02)
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[1] Ginásio: Théâtre du Gymnase Dramatique, de comédias musicadas (Vaudevilles), inaugurado em 1828.
[2] Porte-Saint-Martin: no bulevar deste nome, onde anos depois se representaria Vautrin, drama do próprio Balzac.
[3] Réveillon: pessoa real, fabricante de papéis de parede.
[4] Lebrun: Charles Lebrun (1619-1690), ilustre pintor francês; deve a fama a uma série de quadros monumentais que representam as Batalhas de Alexandre.

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