sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Crônica: Cuia

Luis Fernando Veríssimo


     Lindaura, a recepcionista do analista de Bagé ― segundo ele, “mais prestimosa que mãe de noiva” ―, tem sempre uma chaleira com água quente pronta para o mate. O analista gosta de oferecer chimarrão a seus pacientes e, como ele diz, “charlar passando a cuia, que loucura não tem micróbio”. Um dia entrou um paciente novo no consultório.

Buenas, tchê ― saudou o analista. ― Se abanque no más.

     O moço deitou no divã coberto com um pelego e o analista foi logo lhe alcançando a cuia com erva nova. O moço observou:

― Cuia mais linda.
Cosa mui especial. Me deu meu primeiro paciente. O coronel Macedônio, lá pras banda de Lavras.
― A troco de quê? ― quis saber o moço, chupando a bomba.
Pues tava variando, pensando que era metade homem e metade cavalo. Curei o animal.
Oigalê.
― Ele até que não se importava, pues poupava montaria. A família é que encrencou com a bosta dentro de casa.
A la putcha.

O moço deu outra chupada, depois examinou a cuia com mais cuidado.

― Curtida barbaridade. 
― Também. Mais usada que pronome oblíquo em conversa de professor.
Oigatê.

     E a todas estas o moço não devolvia a cuia. O analista perguntou:

― Mas o que é que lhe traz aqui, índio velho?
― É esta mania que eu tenho, doutor.
Pos desembuche.
― Gosto de roubar as coisas.
― Sim.

     Era cleptomania. O paciente continuou a falar, mas o analista não ouvia mais.
     Estava de olho na sua cuia.

― Passa ― disse o analista.
― Não passa, doutor. Tenho esta mania desde piá.
― Passa a cuia.
― O senhor pode me curar, doutor?
― Primeiro devolve a cuia.

     O moço devolveu.
     Daí para diante, só o analista tomou chimarrão. E cada vez que o paciente estendia o braço para receber a cuia de volta, ganhava um tapa na mão.

________________

Luis Fernando Veríssimo (1936 - 2025) foi um escritor gaúcho reconhecido por suas famosas crônicas. Normalmente se utilizando do humor, seus textos curtos trazem histórias que versam sobre o cotidiano e as relações humanas.

________________

_______________


Mano Lima - sobre o Mate




Causos do Mano Lima




Mano Lima - Cadela Baia 
Programa De Campo E Alma




Cadela Baia | Mano Lima e Grupo Bororé
Composição: Mano Lima.
Programa de Corpo e Alma

A minha doma é na base do ia há há
Deixo que corra à vontade e embalo o corpo pra golpear
Dou-lhe um tirão lá no fundo da invernada
E outro aqui na chegada e nesse já faço esbarrar
Dou-lhe um tirão lá no fundo da invernada
E outro aqui na chegada e nesse já faço esbarrar
Conto com a sorte e com a minha cadela baia
Que às vezes a pobre me ajuda e outras vezes me atrapalha
Eu mesmo pego, eu mesmo encilho, eu mesmo espanto
Depois que solto pra arriba nos arreios eu me garanto
Eu mesmo pego, eu mesmo encilho, eu mesmo espanto
Depois que solto pra arriba nos arreio eu me garanto
Depois que eu boto a curva da perna no arreio
Pode frouxar a minha cadela só que rache pelo meio
A minha cadela sai pegando pelas venta
E eu afirmo na soiteira e abraço nas ferramenta
A minha cadela sai pegando pelas venta
E eu afirmo na soiteira e abraço nas ferramenta
Pra quem não sabe o meu apelido é polvadeira
E desde que eu vim da fronteira dou pau em égua porreada
Meu professor foi o maragato Antenor
Que mora ali no corredor pra diante da encruzilhada
Meu professor foi o maragato Antenor
Que mora ali no corredor pra diante da encruzilhada
Conto com a sorte e com a minha cadela baia
Que às vezes a pobre me ajuda e outras vezes me atrapalha
Eu mesmo pego, eu mesmo encilho, eu mesmo espanto
Depois que solto pra arriba nos arreios eu me garanto
Eu mesmo pego, eu mesmo encilho, eu mesmo espanto
Depois que solto pra arriba nos arreios eu me garanto
Depois que eu boto a curva da perna no arreio
Pode soltar a minha cadela só que rache pelo meio
A minha cadela sai pegando pelas venta
E eu afirmo na soiteira e abraço nas ferramenta
A minha cadela sai pegando pelas venta
E eu afirmo na soiteira e abraço nas ferramenta

Nenhum comentário:

Postar um comentário