sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Moby Dick: 39 - Primeira vigília noturna

Moby Dick

Herman Melville

GÁVEA DO TRAQUETE
39 -  Primeira vigília noturna
 
     [Stubb, sozinho, consertando uma braçadeira.]

     Ha! ha! ha! ha! hein! Limpei minha garganta! – estive pensando desde então, e este “ha, ha” é a conclusão. Por quê? Porque uma risada é a resposta mais sábia e mais fácil para tudo o que é estranho; e, venha o que vier, um consolo sempre resta – um consolo infalível, de que tudo é predestinado. Não ouvi toda sua conversa com Starbuck; mas, para meus olhos de pobre-diabo, Starbuck parecia sentir-se mais ou menos como me senti naquela outra noite. Com certeza o velho Grão-Mogol também se encarregou dele. Eu saquei, eu sabia; se tivesse o dom, teria adivinhado – pois quando bati o olho em seu rosto, eu vi. Bem, Stubb, sábio Stubb – é meu título –, bem, Stubb, e então, Stubb? Eis aí a carniça. Não sei de tudo que está por vir, mas, seja o que for, vou fazer dando risada. Como sempre há algo de cômico nas coisas mais horríveis! Sinto-me alegre. Tra-lalá-lalá! O que estaria fazendo agora minha perinha gostosa lá em casa? Chorando as mágoas? – ou dando uma festa para os arpoadores recém-chegados, creio, alegre como a bandeirola de uma fragata, assim como eu também – tra-lalá-lalá! Oh –

Vamos beber esta noite, cheios de graça, 
Para que os amores, alegres, espumantes, 
Como as bolhas que bordejam nesta taça, 
Estourem leves pela boca dos amantes.

     Que estrofe mais arrojada – quem está chamando? Senhor Starbuck? Sim, sim, senhor – [à parte] ele é meu superior, mas também tem seu superior, se não me engano. – Sim, sim, senhor, já termino este serviço – já vou.

Continua na página 166...
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Moby Dick é um romance do escritor estadunidense Herman Melvillesobre um cachalote (grande animal marinho) de cor branca que foi perseguido, e mesmo ferido várias vezes por baleeiros, conseguiu se defender e destruí-los, nas aventuras narradas pelo marinheiro Ishmael junto com o Capitão Ahab e o primeiro imediato Starbuck a bordo do baleeiro Pequod. Originalmente foi publicado em três fascículos com o título "Moby-Dick, A Baleia" em Londres e em Nova York em 1851,
O livro foi revolucionário para a época, com descrições intrincadas e imaginativas do personagem-narrador, suas reflexões pessoais e grandes trechos de não-ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de caça a elas, arpões, a cor do animal, detalhes sobre as embarcações, funcionamentos e armazenamento de produtos extraídos das baleias.
O romance foi inspirado no naufrágio do navio Essex, comandado pelo capitão George Pollard, que perseguiu teimosamente uma baleia e ao tentar destruí-la, afundou. Outra fonte de inspiração foi o cachalote albino Mocha Dick, supostamente morta na década de 1830 ao largo da ilha chilena de Mocha, que se defendia dos navios que a perturbavam.
A obra foi inicialmente mal recebida pelos críticos, assim como pelo público por ser a visão unicamente destrutiva do ser humano contra os seres marinhos. O sabor da amarga aventura e o quanto o homem pode ser mortal por razões tolas como o instinto animal, sendo capaz de criar seus fantasmas justamente por sua pretensão e soberba, pode valer a leitura.


E você com o quê se identifica?

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