segunda-feira, 7 de setembro de 2020

mulheres descalças: o descuido da miúda

mulheres descalças


o descuido da miúda
Ensaio 127Bzh – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



a miúda vivia correndo e brincando de escondê ela mesma nas trança; assim, o trabáio-escravizadô num achava a miúda pra botá suas mão e dizê uqui ela tinha ou num tinha qui fazê, brincava disê miúda

mãinha num tinha repouso inté quando destramava as trança da miúda nem enquanto cantava e assoprava os ventu da saudade, sabia quias fresta do quarto do despejo era lugá pra espioná uspretu, num tinha lugá de sossego nem dentro dela mesma, depois dos lampião apagado a boca cor-de-rosa num durumia, fazia muntu tempo qui perdeu a mania de sorrí na penumbra – tanto tempo qui já nem lembrava mais como era tê alegria, mesmo sem tê alegria – o sorriso abafado e lamentoso da tristeza dus pretus qui exiti sem existí

tava sempre pronta pra fazê avisá do inferno antes de chegá o diabo, mais udia do descuido chegô

mãinha entranhada nas suas tarefa e a miúda ocupada em se alegrá nas brincadêra num conseguiu se escondê nas trança – as mão rápida do trabáio-escravizadô alcançô a miúda pelas trança –, foi quando teve as trança cortada e enterrada numa cova bem funda, desse dia pra frente a miúda passô juntá fruta no chão, arrancá erva-daninha, catá as larva, cuidá das galinha, num brincô mais

e veio o tempo qui foi vendida sem tê ou dá o beijo na mãinha

uma buneca preta de carne e osso qui depois foi alugada pra vendê fruta, verdura, doce, pão, flô, vela e comida pronta nas rua ou no beco do rosário inté sê batizada otra veiz, antônia açunta do mercado público do porto da villa alegre

saiu das rua pra sê a faz-tudo na casa do siô augusto, tinha sido vendida otra veiz

agora, chegô o tempo disê abandonada



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histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida 
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa... 
mulheres descalças: Mas você devia! 
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: a traste

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