quarta-feira, 25 de junho de 2025

Dostoiévski - O Idiota: Quarta Parte (6b) - O príncipe perguntou-lhe

O Idiota

Fiódor Dostoiévski

Tradução portuguesa por José Geraldo Vieira

Quarta Parte

6.
continuando...

     O príncipe perguntou-lhe, severamente:

- Que é que você quer dizer?
- Não seria melhor abri-la? - ciciou, insinuando-se como que confidencialmente. 

     O salto que Míchkin deu na direção dele foi de tal ímpeto que Liébediev fugiu, desabaladamente, só parando lá longe, na porta, a ver se conseguia perdão.

- Escute uma coisa, Liébediev! Como lhe é possível chafurdar assim em tão abjeta degradação? - perguntou-lhe o príncipe amargamente. 
- Sou abjeto, abjeto!... - logo se aproximou, em lágrimas batendo no peito.
- Você bem sabe que isso é abominável! 
- Que é abominável, é! Eis a palavra para isso!
- Que hábito horroroso, proceder de maneira tão falsa! Você não passa de um espião! Para que foi mandar cartas anônimas, afligir uma mulher de coração tão bondoso? Agláia não tem direito de escrever a quem quiser? Você foi lá para delatar... Esperava receber uma recompensa? Que foi que o induziu a inventar histórias?
- Simplesmente uma agradável curiosidade e o desejo de pôr em útil ação um coração generoso! Mas, agora, sou outra vez só do senhor. Todo! O senhor pode até mandar enforcar-me! 
- E você foi lá deste jeito? Será possível? - indagou o príncipe, enojado. 
- Não, eu estava direito! Mais decente! Foi só depois da minha humilhação que me reduzi a este estado!
- Bem, basta! Vá embora. 

     Teve de repetir esta intimação várias vezes antes de conseguir que Liébediev se fosse. Antes de abrir a porta, ainda voltou, nas pontas dos pés; parou no meio da sala e gesticulou, querendo significar que convinha abrir a carta. Não se aventurou a objetivar o conselho com palavras. Posto o quê, saiu, com um sorriso suave e cortês.
     Fora-lhe extremamente doloroso ter tido de ouvir tudo aquilo. Agora ficava ainda mais evidente o que o andava impressionando: a grande inquietação de Agláia, o seu ar como que perplexo, a sua angústia causada por qualquer coisa. (Por ciúme, sussurrava o príncipe.) Gente mal-intencionada a andava afligindo; e o que era mais estranho, gente em quem confiava. Sem dúvida aquela inexperiente e febril cabecinha estava chocando alguns planos especiais, decerto ruinosos e totalmente bárbaros. O príncipe ficou muito alarmado e, em sua perturbação, não soube o que fazer. Sentia, porém, que urgia fazer alguma coisa. Olhou mais uma vez para o sobrescrito da carta lacrada.
     Oh! Não receou nada; não se perturbou. Quanto a isso, confiava em Agláia. O que, a propósito da carta, o inquietou, foi outra coisa muito diferente: não confiava em Gavríl Ardaliónovitch. Mesmo assim, resolveu ir pessoalmente entregar a carta, tendo até saído de casa com tal desígnio. Mas, na rua, mudou de idéia. Por feliz casualidade encontrou, quase à porta de Ptítsin, Kólia, encarregando-o de entregar a carta ao irmão, como vinda diretamente de Agláia Ivánovna. Sem perguntar nada, Kólia a foi entregar logo, de maneira que Gánia não suspeitou que ela tivesse dado tantas voltas.
     Regressando a casa, Míchkin mandou chamar à sua presença vera Liébedieva; contou-lhe o indispensável, sossegando-lhe o espírito, pois a coitada estivera todo o tempo à cata do que julgara ter perdido, e ainda estava em lágrimas. Ficou horrorizada quando soube que fora o pai quem carregara com a carta. (O príncipe veio a saber dela, em seguida, que mais de uma vez tinha ajudado Rogójín e Agláia Ivánovna, em segredo, sem lhe ocorrer que Míchkin, com isso, estava sendo injuriado.)
     Depois de tudo isso, o príncipe ficou tão zonzo que, duas horas depois, quando uma pessoa, a mando de Kólia, correu a dar-lhe notícias de que o General Ívolguin piorara, não alcançou, nos primeiros minutos, a gravidade do caso. Depois, porém, este acontecimento lhe acabou distraindo completamente a atenção. Foi à casa de Nina Aleksándrovna (para onde o doente naturalmente tinha sido carregado) e lá ficou até a noite. Nenhum auxílio podia prestar.
     Mas pessoas há, cuja presença, nas horas de angústia, é consolo. Kólia estava terrivelmente desesperado; chorava desesperadamente, embora a todo instante o mandassem à rua para diversos expedientes: correr à procura de um médico (sendo que veio logo com três), dar uma carreira à farmácia, mandar chamar o barbeiro. Afinal, conseguiram fazer o general voltar a si, mas ficou completamente marasmado, opinando os médicos que, em todo o caso, continuava em perigo. 
     Gánia ficou muito aflito, tentou dominar-se, não subiu, parecia recear o doente. Em dada hora, diante de Míchkin, juntou as mãos e, em uma linguagem desconexa e incoerente, deixou cair esta frase:

- Que calamidade! E justamente em um momento destes!

     O príncipe pôs-se a analisar intimamente o que quereria ele significar por “um momento destes”.
     Não encontrou Ippolít em casa de Ptítsin.
      Liébediev que, depois da explicação matinal, tinha dormido de dia um sono só, correu para lá, à noite. Agora já estava “curado”, e derramou lágrimas verdadeiras sobre o doente, como se se tratasse de um irmão. Censurou-se repetidas vezes, em voz alta, sem explicar por que, e não largava Nina Aleksándrovna, assegurando, a todo momento, que “fora a causa disso, ele e mais ninguém, mercê de uma leviana curiosidade” e que o “finado” (persistia em chamar assim ao general ainda vivo) fora positivamente um homem de gênio!
     Insistia, muito sério, nessa coisa de gênio, como se isso pudesse causar, no momento, qualquer vantagem. Reparando que as lágrimas dele eram verdadeiras. Nina Aleksándrovna acabou por lhe dizer com uma nota de reprimenda feita cordialmente:

- Bem, que Deus te abençoe, não chores. Vamos! Que Deus te perdoe!

      Liébediev ficou tão impressionado com estas palavras, e com o tom delas, que não houve meio de deixá-la um momento, grudando nela toda a noite (e os dias subsequentes, desde manhã até a hora da morte do general não largando a casa). Duas vezes, durante o dia, um mensageiro de Lizavéta Prokófievna veio perguntar pelo moribundo.
     Quando, às nove horas da noite, o príncipe apareceu na sala de visitas dos Epantchín, que já estava repleta de convidados, Lizavéta Prokófievna logo lhe começou a perguntar pelo general, de modo muito simpático e minucioso, respondendo com dignidade à pergunta da Princesa Bielokónskaia: “Que doente é esse e quem é essa Nina Aleksândrovna?”, o que muito agradou a Míchkin. Em resposta à Sra. Epantchiná, explicou a situação do enfermo, falando esplendidamente (como as irmãs de Agláia disseram depois), modestamente sereno, com dignidade, sem profusão de gestos nem de palavras.
     Soube entrar admiravelmente; estava vestido com perfeição, e em vez de escorregar no assoalho polido, como temera na véspera, a impressão que causou a todos foi evidentemente favorável. Sentando-se e olhando em torno, por sua parte ele notou logo que a companhia não era absolutamente constituída pelos fantasmas com que Agláia tinha tentado amedrontá-lo, nem se assemelhava às figuras de pesadelo do seu sonho da última noite.
     Pela primeira vez na sua vida, estava vendo um corte transverso daquilo a que se dá o nome respeitável de “sociedade”. Em tempos passados certas considerações o tinham inclinado, quase que sequiosamente, ao projeto de penetrar nesse círculo encantado. E era por isso que se sentia tão profundamente interessado na sua primeira impressão. E esta era fascinante.
     Pareceu-lhe, de certo modo, que essa gente devia ter nascido para estar, por assim dizer, junta. Era como se não houvesse recepção alguma de convivas na casa dos Epantchín, mas de uma gente própria a que ele desde muito tempo estivesse devotado, lhe conhecesse os pensamentos e à qual estivesse voltando agora, depois de uma curta separação. O encanto e a distinção de suas maneiras, sua simplicidade e sinceridade aparente produziam um efeito quase feérico.
     Nunca lhe entraria pela cabeça que toda aquela singela nobreza de maneiras e aquela dignidade, a que se juntaram talento e espírito fossem mera encenação, ou que a maioria dos convidados, a despeito de seu exterior atraente, fosse de cabeças ocas, inacauteladas, sua superioridade sendo mero verniz, dela nem sendo responsáveis, tendo-a adotado apenas por herança, inconscientemente.
     Empolgado pelo encanto de sua primeira impressão, o príncipe não se inclinou absolutamente a suspeitar disso. Viu, por exemplo, que esse importante e velho dignitário, que podia ser seu avô, parava de falar para ouvir um jovem inexperiente como ele; não só ouvi-lo, mas até conceituar a sua opinião; e que era cordial, sinceramente bondoso para com ele, muito embora fossem, como eram, estranhos um ao outro, tendo-se encontrado pela primeira vez ali. Decerto o refinamento da cortesia fora o que produzira maior efeito na sequiosa sensibilidade de Míchkín. Ele estava pois prejudicado por sua predisposição a impressões favoráveis.
     E todavia, essa gente - muito embora fosse amiga da família e amiga entre si, na realidade não era tão amiga da família nem tão amiga entre si, como ao príncipe pareceu quando lhe foi ao encontro para lhe ser apresentado. Pessoas havia, na reunião, que jamais reconheceriam os Epantchín como seus iguais. E pessoas havia que mutuamente se detestavam: a velha Princesa Bielokónskaia sempre havia menoscabado a esposa do velho dignitário, ao passo que esta, por sua vez, estava longe de gostar de Lizavéta Prokófievna.
     Esse dignitário, seu marido, que por qualquer motivo fora o patrono dos Epantchín desde a mocidade deles em diante, e era a pessoa mais influente dali, era um personagem de tão vasta importância aos olhos de Iván Fiódorovitch que este, perante o outro, só conhecia a sensação da reverência e do temor, ao passo que o dignitário sentiria desprezo por si mesmo se algum dia, por um momento só, viesse a se pôr em pé de igualdade com ele, cuidando-se no mínimo como um júpiter olímpico.
     Havia gente que não se encontrava desde muitos anos e que não sentia senão indiferença, ou melhor, desprazer uma pela outra. Todavia, agora se saudavam como se tivessem se encontrado ontem em agradável companhia. E nem a reunião era assim numerosa. Além da Princesa Bielokónskaia e do velho dignitário que, de fato, era um indivíduo de categoria, e respectiva esposa, havia, em primeiro lugar, um corpulento general, conde, ou barão, com nome alemão homem de extraordinária taciturnidade com reputação de grande conhecedor dos negócios públicos e até com vocação para sábio - um desses administradores do Olimpo que conhecem tudo, exceto, talvez, a Rússia; homem que uma única vez, em cinco anos, fizera uma observação extraordinariamente profunda, dessas que inevitavelmente se transformam em provérbio, caindo até nos círculos mais avançados; um desses oficiais do governo que, habitualmente, após um extremo período de serviço, morrem de posse de larga fortuna e com as honras inerentes às posições do mando, muito embora nunca tenham realizado nenhum grande empreendi- mento; pelo contrário, até tendo tido aversão pelos empreendimentos.
     Este general era o chefe imediato do General Epantchín que, no zelo de sua gratidão, o que nele era uma forma toda especial de vaidade, o considerava seu protetor. Coisa aliás que o outro absolutamente não considerava como sendo de Iván Fiódorovitch, pois o tratava com absoluta frieza; sabendo embora avaliar os seus préstimos, substitui-lo-ia imediatamente para outro oficial, se, por qualquer consideração, mesmo trivial, achasse conveniente tal troca.
     Havia, também, um importante cavalheiro, de meia-idade, suposto parente de Lizavéta Prokófievna (coisa aliás bem inverídica), homem de alta posição por nascimento e fortuna. Ainda era robusto, gozava de excelente saúde, era um grande conversador e tinha reputação de homem insatisfeito no mais legítimo sentido da palavra. E mesmo atrabiliário (o que também lhe era agradável); copiava os artifícios da aristocracia inglesa e o gosto inglês como rosbife, armaduras, mordomos etc. Era um grande amigo do dignitário e o divertia.
     Todavia Lizavéta Prokófievna, por qualquer motivo, acariciava a extravagante ideia de que a este provecto cavalheiro (aliás, pessoa frívola com inclinação pelo sexo fraco) repentinamente lhe daria na cabeça fazer a felicidade de Aleksándra, pedindo-lhe a mão.
     Abaixo dessa altíssima e sólida camada da sociedade, vinham os convidados mais novos, também se fazendo notar por suas qualidades extremamente elegantes, e a cujo grupo pertenciam o Príncipe Chtch... e Evguénii Pávlovitch, bem como o afamado e fascinante Príncipe N... que seduzira e transtornara corações pela Europa inteira, homem de uns quarenta e cinco anos, de formosa aparência ainda, e formidável causeur. Tinha dissipado uma grande fortuna e habitualmente vivia no estrangeiro.
     Havia também outra gente, que constituía uma terceira camada especial, não pertencendo ao círculo fechado da sociedade, mas que, como os Epantchín, podia ser encontrada nela. Através de um certo senso e de um talento de adaptação que sempre os guiava, os Epantchín gostavam, nas raras ocasiões em que davam recepções de misturar com a alta sociedade pessoas de graduação um pouco menor, representantes seletos da “espécie média”. E não faltava quem elogiasse os Epantchín por fazerem isso, pois davam a entender assim que percebiam com muito tato a sua posição.
     Um dos representantes da classe média, esta noite, era um coronel de engenharia. Homem sério, amigo íntimo do Príncipe Chtch... por quem fora introduzido e apresentado em casa dos Epantchín. Quase não falava em sociedade, usava um anel desconforme e raro no dedo indicador da mão direita, provavelmente um presente.
     Havia, também, um poeta de origem alemã, mas poeta em idioma russo, perfeitamente apresentável, podendo, sem dúvida, ser introduzido sempre em boa sociedade, sem que viesse a causar apreensões. Era de aparência bem conformada, embora, por certa razão difícil de dizer à primeira vista qual fosse, repulsiva. Devia ter uns trinta e oito anos e se vestia irrepreensivelmente. Descendia de uma família alemã fundamentalmente burguesa, mas respeitável. Tinha o dom de obter vantagens e escolher oportunidades, sabendo quais as pessoas altamente colocadas cujo patrocínio lhe convinha. Certa vez traduzira versos de uma obra importante de um poeta alemão, fora hábil ao dedicar a sua tradução, e mais hábil ainda em ostentar sua amizade com um célebre poeta russo, já morto (havia uma turma de escritores cuja amizade gostava de recordar pela imprensa; sempre amizades de grandes escritores já mortos). Fora apresentado recentemente aos Epantchín, pela esposa do velho dignitário.
     Esta dama era célebre pela proteção que dedicava a literatos e homens cultos; tinha mesmo, com sua influência, arranjado pensão para um ou dois escritores, servindo-se de poderosos personagens. Realmente dispunha de influência. Era mulher de quarenta e cinco anos (e por conseguinte bastante nova ainda para um homem da idade do marido); fora muito bonita e, como certas mulheres quarentonas, tinha ainda a mania de se vestir um pouco espalhafatosamente. Sua inteligência era curta e os seus conhecimentos literários duvidosos. Proteção a literatos era uma mania igual à dos seus atavios estapafúrdios. Muitas obras e traduções lhe haviam sido dedicadas e. com a sua permissão, dois ou três escritores tinham publicado cartas a ela escritas sobre assuntos da maior importância!...
     Toda essa sociedade tomou-a Míchkin como moeda de lei, ouro puro, sem liga. Toda essa gente se achava, essa noite, como que por privilégio, no mais feliz estado de espírito e muito contente de si. Todos, sem exceção, sabiam que estavam, com a sua visita, prestando uma grande honra aos Epantchín. Mas pobre dele, Míchkin! Não suspeitava existirem tais sutilezas. Não suspeitava, por exemplo, que, conquanto os Epantchín estivessem considerando um passo tão importante para decisão do futuro de sua filha, ousariam deixar de exibi-lo, a ele, Príncipe Liév Nikoláíevitch, ao velho dignitário que era reconhecidamente o patrono da família. E embora o velho dignitário, por sua parte, viesse a suportar com perfeita equanimidade as novidades da mais terrível calamidade que caísse sobre os Epantchín, certamente se ofenderia se os Epantchín contratassem o noivado de sua filha sem se aconselharem com ele, ou melhor falando, sem o seu consentimento.
     O Príncipe N... estava convencido de que era uma espécie de sol que se tinha levantado esta noite para ofuscar a sala dos Epantchín, sendo, como era, encantador e inquestionavelmente talentoso. Olhava-os a todos como infinitamente abaixo dele, e fora justamente essa franca e generosa noção de si próprio que o insinuara com maravilhosa e encantadora facilidade entre os Epantchín. Sabendo muito bem que tinha de contar uma história qualquer, para deleitar os convivas, para tal se preparara com positiva inspiração.
     Quanto ao Príncipe Liév Nikoláievitch, é logico que depois que ouviu a história sentiu que jamais ouvira nada tão brilhante como humor, alegria estonteante e ingenuidade encantadora, dos lábios de um dom-joão como esse Príncipe N... Se, no entanto, tivesse sabido quão velha e repetida essa história era, sabida até de cor, gasta, usada e imprópria para uma sala de visitas, só em casa dos Epantchín podendo passar como novidade ou improviso, como verídica reminiscência de um homem esplêndido e brilhante!... Até mesmo o pequeno poeta alemão, que se estava comportando com grande modéstia e polidez, inclinava-se a acreditar que, com a sua presença, rendia uma homenagem à família.
     Mas Míchkin não via nada pela outra face, não sabia reconhecer correntes submarinas! Tal calamidade, Agláia não previra. E, esta noite, ela estava particularmente formosa. Trajavam as três moças vestidos de soirée, mas não demasiado suntuosos, e usavam penteados de estilo sui generis. Agláía estava sentada com Evguénii Pávlovitch; conversava com ele e até brincavam ambos com excepcional amizade. Evguénii Pávlovitch comportava-se com mais tranquilidade do que de costume, um pouco, talvez, em respeito aos dignitários. Conhecido em sociedade da forma por que o era, estava como em casa, apesar de tão moço. Chegara à casa dos Epantchín, essa noite, com crepe no chapéu, o que não passou despercebido à Princesa Bielokónskaia, que aprovou isso. Qualquer jovem mundano não poria luto, em tais circunstâncias, por tal tio. Lizavéta Prokófievna também apreciou, embora tivesse mais com que se preocupar essa noite.
     Notou o príncipe que Agláía o observara com certa atenção uma ou duas vezes e lhe pareceu que ela quis significar com isso que estava contente com ele. Pouco a pouco começou a se sentir muito feliz. Aquelas suas apreensões depois da conversa com Liébediev pareciam-lhe, agora, bem como as suas mais recentes ideias quando de súbito lhe voltavam à memória por entre intervalos, um sonho inconcebível, incrível e ridículo! (Durante todo o dia o seu esforço principal - embora inconsciente - tinha sido rejeitar até à anulação aquele sonho!) Falava pouco, e isso mesmo em resposta a perguntas. Já muito depois, não falou mais. Sentado como estava, ficou quieto, a ouvir, evidentemente feliz e satisfeito consigo. Mas, vagarosamente, dentro dele começou a trabalhar qualquer coisa, assim como que uma inspiração, pronta a romper no primeiro ensejo!... E eis que se pôs a falar, mas, com efeito, só em resposta a perguntas, aparentemente, sem nenhum especial desígnio.

Terceira Parte
O Idiota: Quarta Parte (6b) - O príncipe perguntou-lhe
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