Machado de Assis
Conto
PONTO DE VISTA
Capítulo XVIII
ALBERTO A D. RAQUEL
8 de março
Oh! não sabe como lhe agradeço a sua carta! Enfim veio! Foi um raio de luz entre as sombras da minha incerteza. Sou amado? Não me ilude? Também sente esta paixão que me devora o peito, capaz de levar-me ao céu, capaz de levar-me ao inferno?
Tem razão quando me pergunta se o não percebera já nos seus olhos. É
verdade que eu julguei ler neles a minha felicidade. Mas podia iludir-me;
supus que a suprema felicidade não era tão pronta, e se me iludisse, não
sei se viveria...
Por que razão duvida de mim? por que motivo receia que o meu amor
seja um passatempo de sala? Que mortal haveria neste mundo que
brincasse com a coroa de glória trazida à terra nas mãos de um anjo?
Não, Raquel... perdão se lhe chamo assim! Não, o meu amor é imenso,
casto, sincero, como os verdadeiros amores.
Uma só palavra sua e podemos converter esta paixão no mais doce e
delicioso estado de bem-aventurança. Quer ser minha esposa? Diga,
responda essa palavra.
ALBERTO
continua na página 100...
__________________
Leia também:
Histórias da Meia-Noite: Ponto de vista (XVIII)
__________________
Advertência
Vão aqui reunidas algumas narrativas, escritas ao correr da pena, sem outra pretensão que não seja a de ocupar alguma sobra do precioso tempo do leitor. Não digo com isto que o gênero seja menos digno da atenção dele, nem que deixe de exigir predicados de observação e de estilo. O que digo é que estas páginas, reunidas por um editor benévolo, são as mais desambiciosas do mundo.
Aproveito a ocasião que se me oferece para agradecer à crítica e ao público a generosidade com que receberam o meu primeiro romance, há tempos dado à luz. Trabalhos de gênero diverso me impediram até agora de concluir outro, que aparecerá a seu tempo.
Aproveito a ocasião que se me oferece para agradecer à crítica e ao público a generosidade com que receberam o meu primeiro romance, há tempos dado à luz. Trabalhos de gênero diverso me impediram até agora de concluir outro, que aparecerá a seu tempo.
10 de novembro de 1873.
M.A.
Texto-fonte:
Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente por Editora Garnier, Rio de Janeiro, 1873
Nenhum comentário:
Postar um comentário