sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Marcel Proust - Sodoma e Gomorra (Cap I - O Sr. de Froberville)

em busca do tempo perdido

volume IV
Sodoma e Gomorra



Capítulo Primeiro
Segunda Parte


continuando...

     O Sr. de Froberville forçosamente se beneficiara com a situação favorável que, desde pouco tempo, se formara a respeito dos militares da sociedade. Infelizmente, se a mulher com quem se casara era parenta legítima dos Guermantes, era uma parenta extremamente pobre, e ele próprio havia perdido a sua fortuna, eles quase não tinham relações; e eram dessas pessoas que são deixadas de lado a não ser nos menos importantes, quando lhes ocorria perderem ou casar um parente. Então faziam verdadeiramente parte da comunhão da alta sociedade, como católicos que só o são de nome e se aproximam da santa mesa apenas uma vez por ano. Sua situação material teria sido mesmo desgraçada se a Sra. de Saint-Euverte, fiel à afeição que dedicara ao falecido general Froberville, não ajudasse o casal de todas as maneiras, fornecendo distrações às duas meninas. Mas o coronel, que passava por rapaz, não era uma alma agradecida. Tinha inveja dos esplendores da benfeitora que não deixava de elogiá-los sem cessar e sem medidas; no garden-party anual era para ele, sua mulher e suas filhas um prazer maravilhoso a que não faltariam por todo o ouro do mundo, mas um prazer envenenado pelo pensamento das alegrias de orgulho que dele tirava a Sra. de Saint-Euverte. O anúncio desse garden-party nos jornais, que a seguir, dei uma descrição detalhada, acrescentavam de modo maquiavélico:
     "Voltaremos a essa bela festa", os detalhes complementares sobre as toaletes, dados durante vários dias seguidos, tudo isto fazia tão mal aos Frobervilles, que eles, bastante privados de prazeres e sabendo que podiam contar com os daquela festa, chegavam, todos os anos, a desejar que o mau tempo lhe prejudicasse o êxito, consultavam o barômetro e antegozavam, deliciados, os primórdios de uma tempestade que pudesse fazer gorar a festa. 

- Não discutirei política com você, Froberville - disse o Sr. de Guermantes -; mas, no que tange a Swann, posso dizer com franqueza que sua conduta a nosso respeito foi inqualificável. Apadrinhado na sociedade antigamente por nós, e pelo duque de Chartres, dizem-me que é abertamente dreyfusista. Nunca teria acreditado nisso da parte dele, ele que é um fino gourmet, um espírito positivo, um colecionador, apreciador de livros antigos, membro do Jockey, um homem rodeado da consideração geral, um conhecedor de boas firmas e que nos enviava o melhor vinho do porto que se pode beber, um diletante, um pai de família. Ah, fui bem enganado. Não falo de mim; é voz corrente que sou uma velha besta, opinião que não conta, uma espécie de pobre-diabo, mas ao menos por Oriane ele não deveria ter feito isso, devia ter desaprovado abertamente os judeus e os sectários do condenado. 

- Sim, depois da amizade que sempre lhe testemunhou a minha mulher - prosseguiu o duque, que evidentemente considerava que condenar Dreyfus por alta traição, fosse qual fosse a opinião que se tivesse intimamente quanto à sua culpabilidade, constituía uma espécie de agradecimento pelo modo como se fora recebido no faubourg Saint-Germain ele deveria ter retirado sua solidariedade. Pois, perguntem a Oriane, ela sentia verdadeira amizade por ele. - 

     A duquesa, pensando que um tom ingênuo e calmo daria um valor mais sincero e dramático às suas palavras, disse com uma voz de colegial, como se deixasse simplesmente sair a verdade de sua boca e apenas dando aos olhos uma expressão um tanto melancólica:

- Mas é verdade, não tenho motivo algum para ocultar que sentia um afeto sincero por Charles! 

- Vejam, não a obriguei a falar. E, depois disso, ele leva a ingratidão ao ponto de ser dreyfusista! 

- A propósito de dreyfusistas - disse eu -, parece que o príncipe Von o é.

- Ah, o senhor faz bem em me falar dele! - exclamou o Sr. de Guermantes -; já ia esquecendo que ele me pediu para vir jantar segunda-feira. Mas seja ele dreyfusista ou não, pouco me importa, visto que é estrangeiro. É-me perfeitamente indiferente. No caso de um francês, a coisa muda de figura. É verdade que Swann é judeu. Mas até o dia de hoje desculpe me Froberville eu tinha tido a fraqueza de crer que um judeu pudesse ser francês, quero dizer, um judeu honrado, homem da alta sociedade. Ora, Swann era exatamente isto, em toda a extensão da palavra. Pois bem, ele me obriga a reconhecer que me enganei, visto que toma o partido de Dreyfus (que, culpado ou não, de modo algum faz parte do seu meio, e a quem jamais teria encontrado) contra uma sociedade que o havia adotado, que o tratara como a um dos seus. Não há o que negar, nós todos éramos fiadores de Swann, eu teria jurado pelo seu patriotismo como pelo meu. Ah, ele nos recompensa muito mal. Confesso que nunca esperaria isso de sua parte. Julgava-o melhor. Ele tinha espírito (em seu gênero, bem entendido). Bem sei que já cometera a insanidade de seu casamento vergonhoso. Olhem, sabem a que pessoa o casamento de Swann fez muito mal? A minha mulher. Oriane muitas vezes tem o que eu chamaria afetação de insensibilidade. Mas, no fundo, ela sente com uma intensidade extraordinária. - 

     A Sra. de Guermantes, encantada com essa análise do seu caráter, escutava-o com ar modesto, mas não dizia uma só palavra, por escrúpulo de aquiescer com o elogio, sobretudo com receio de interrompê-lo. O Sr. de Guermantes poderia falar uma hora a esse respeito que ela teria se mexido ainda menos do que se lhe tocassem música.

- Pois bem! Lembro-me quando ela soube do casamento de Swann, sentiu-se magoada; achou, aquilo era malfeito da parte de alguém a quem tínhamos testemunhado amizade. Ela gostava muito de Swann; ficou muito desgostosa. Não é mesmo, Oriane? - 

     A Sra. de Guermantes julgou dever responder a uma apelação tão direta, sobre um assunto que lhe permitiria, sem que desobedecesse, confirmar os louvores que sentia estar acabados. Num tom simples, e com um ar tanto mais estudado quanto desejaria parecer ela disse com uma doçura reservada: 

- É verdade, Basin não se engana. - 

- E, no entanto, ainda não era a mesma coisa. Que querem, é o amor, embora, na minha opinião, deva permanecer dentro de certos limites. Eu ainda poderia desculpar um rapaz, um fedelho que se deixa abalar por utopias. Porém Swann, um homem inteligente, de uma delicadeza comprovada, um fino conhecedor de quadros, um familiar do duque de Chartres, do próprio Gilbert! -

     O tom que o Sr. de Guermantes empregou era aliás perfeitamente simpático, sem sombra da vulgaridade que muitas vezes demonstrava. Falava com uma tristeza levemente indignada, porém tudo nele respirava aquela doce gravidade que faz o encanto untuoso de certas personagens de Rembrandt, por exemplo o burgomestre. Sentia-se que a questão da imoralidade da conduta de Swann no Caso Dreyfus nem mesmo se apresentava ao duque, de tão fora de dúvida que estava; sentia-se nele a aflição de um pai que vê um de seus filhos, pecar cuja educação fez os maiores sacrifícios, arruinar voluntariamente a magnífica situação que lhe proporcionara e desonrar um nome respeitado com desatinos que os princípios ou preconceitos da família não podem admitir. É verdade que o Sr. de Guermantes não havia manifestado outrora um espanto de tal modo profundo e doloroso ao saber que Saint-Loup era dreyfusista. Mas, primeiro, considerava o sobrinho um rapaz no mau caminho e de quem nada poderia espantar enquanto não se emendasse; ao pai que Swann era o que o Sr. de Guermantes chamava "um homem ponderado, uma pessoa que desfrutava de uma posição de primeira ordem". Depois principalmente, passara-se um período bastante longo, durante o qual do ponto de vista histórico, os acontecimentos pareceram em parte ajudar a tese dreyfusista, a oposição antidreyfusista havia redobrado de violência e, de puramente política a princípio, tornara-se social. Era agora questão de militarismo, de patriotismo, e as ondas de cólera erguidas à sociedade, tinham tido tempo de adquirir aquela força que jamais têm, começo de uma tempestade. 

- Vejam - continuou o Sr. de Guermantes - mesmo do ponto de vista de seus caros judeus, já que faz questão aberta de apoiá-los, Swann cometeu um disparate de alcance incalculável. Achava que todos eles estão secretamente unidos e, de alguma forma, são obrigados a prestar auxílio a alguém de sua raça, mesmo se não o conhecem. É um perigo público. Evidentemente, temos sido indulgentes demais, e o deslize de Swann terá tanto mais repercussão porque ele era estimado, e até recebido, sendo de certo modo quase que o único judeu que conhecíamos. Poderá dizer-se: Ab uno disce omnes. ["Do latim:. "Por um só julga a todos." Palavras da Eneida, de Virgílio. (N. do T)] (A satisfação de ter descoberto na memória, no momento adequado, uma citação tão oportuna bastou para iluminar com um sorriso orgulhoso a melancolia do grão-senhor traído.) 

     Sentia eu grande vontade de saber o que se passara exatamente entre Swann e o príncipe, e de ver o primeiro, caso ainda não houvesse deixado a festa.

- Eu lhe direi - falou-me a duquesa, a quem eu externara este meu desejo - que, quanto a mim, não faço muita questão de vê-lo, pois parece, segundo o que me disseram há pouco na casa da Sra. de Saint-Euverte, que ele desejaria, antes de morrer, que eu conhecesse a sua mulher e sua filha. Meu Deus, tenho uma pena infinita de que esteja doente, mas primeiro espero que não seja tão grave assim. Depois, afinal isso não é um motivo, porque de fato seria fácil demais. Bastava que um escritor sem talento dissesse: "Vote a meu favor na Academia, porque minha mulher vai morrer e eu quero dar-lhe esta última alegria." Não haveria mais salões se a gente fosse obrigada a conhecer todos os agonizantes. Meu cocheiro poderia alegar: "Minha filha está muito mal, faça com que eu seja recebido na casa da princesa de Parma." Adoro Charles e me dá muita pena fazer-lhe uma recusa. Assim, é por isso que prefiro evitar que ele me peça. Espero de todo o meu coração que ele não esteja para morrer, como afirma, mas, se isso de fato se verificar, não seria para mim o momento oportuno de conhecer essas duas criaturas que me privaram do mais agradável de meus amigos durante quinze anos, e que ele me deixaria por nada, uma vez que eu nem sequer poderia aproveitar-me disso para vê-lo, pois estaria morto!

     Mas o Sr. de Bréauté não cessara de ruminar o desmentido que lhe fizera o coronel de Froberville. 

- Não duvido da exatidão de seu relato, meu caro amigo - disse ele -, mas a minha versão era de boa fonte. Foi o príncipe de La Tour d'Auvergne que me contou. 

- Espanta-me que um erudito como o senhor diga ainda príncipe de La Tour d'Auvergne interrompeu o duque de Guermantes -; o senhor sabe muito bem que ele absolutamente não o é. Só existe um membro dessa família. É o duque de Bouillon, tio de Oriane. 

- O irmão da Sra. de Villeparisis? - perguntei, lembrando-me de que esta era uma Srta. de Bouillon.

- Perfeitamente. Oriane, a duquesa de Lambresac, a está cumprimentando.

     De fato, via-se, por instantes, formar-se e passar como uma estrela cadente um débil sorriso destinado pela duquesa de Lambresac à alguma pessoa que ela havia reconhecido. Tal sorriso, no entanto, em vez de precisar-se numa afirmação ativa, numa linguagem muda; porém, mergulhava quase de imediato numa espécie de êxtase ideal que não distinguia nada, ao passo que a cabeça se inclinava num gesto de bênção beatífica, lembrando o que inclina para a multidão de comungantes prelado já meio senil. A Sra. de Lambresac não o era de modo algum, eu já conhecia esse tipo especial de distinção antiquada. Em Combray Paris, todas as amigas de minha avó tinham o hábito de cumprimentar, numa reunião mundana, com um aspecto tão seráfico feito se tivessem visto alguém de seu conhecimento na igreja, no momento da elevação ou durante um enterro, e lhe atirassem molemente um cumprimento que terminasse em reza. Ora, uma frase do Sr. de Guermantes ia completar a comparação que eu fazia.  

- Mas o senhor viu o duque de Bouillon - disse-me ele - Estava saindo da biblioteca quando o senhor ia entrando. Era um homem baixinho e de cabelos brancos. -

     Fora ele quem eu tomara por um pequeno-burguês de Combray, e cuja semelhança com a Sra. de Villeparisis eu descobria agora, pensando nele. A parecença das saudações dissipadas da duquesa de Lambresac com as das amigas de minha avó tinham começado a me interessar, ao mostrar-me que, nos meios estreitos e fechados, sejam da pequena burguesia ou da alta nobreza, subsistem às maneiras antigas, permitindo-nos, como a um arqueólogo, recuperar o que podia ser a educação e a parte da alma que ela reflete no tempo do visconde d'Arlincourt e de Loisa Puget. A perfeita conformidade de aparência de um pequeno-burguês de Combray de sua idade e o duque de Bouillon, lembrava-me melhor agora (o que já me impressionara tanto quando vira a avô materna de Saint-Loup, o duque de La Rochefoucauld, num estereótipo em que ele era exatamente igual ao meu tio-avô, tanto no rosto como no aspecto e nos modos de ser) que as diferenças sociais, e até individuais, fundem-se a distância na uniformidade de uma época. A verdade é que a semelhança dos trajes e também a reverberação, pela fisionomia ao espírito da época ocupam numa pessoa um lugar sensivelmente mais importante que o de sua casta, a qual só tem papel considerável no amor-próprio do interessado e na imaginação dos outros, de forma que não é preciso percorrer as galerias do Louvre para perceber que um grão-senhor do tempo de Luís Filipe é menos diferente de um burguês do tempo de Luís Filipe, que de um grão-senhor do tempo de Luís XIV.
     Neste momento, um músico bávaro de longos cabelos, que a princesa de Guermantes protegia, saudou Oriane. Esta respondeu com uma inclinação de cabeça, mas o duque, furioso por ver sua mulher cumprimentar alguém a quem ele não conhecia, que tinha modos singulares e que, tanto quanto o Sr. de Guermantes julgava saber, era de muito má reputação, virou-se para a mulher com ar terrível e interrogativo, como se dissesse:

- ''Quem é esse ostrogodo?"

     A situação da pobre Sra. de Guermantes já era bastante complicada e, se o músico tivesse tido um pouco de piedade dessa esposa mártir, teria se afastado bem depressa. Mas, fosse por desejo de não permanecer debaixo da humilhação que lhe acabava de ser infligida em público, no meio dos mais velhos amigos do círculo do duque, cuja presença talvez tivesse justamente motivado um pouco a sua silenciosa inclinação, e para mostrar que era de direito, e não sem conhecê-la, que havia saudado a Sra. de Guermantes, fosse por obedecer à inspiração obscura e irresistível da gafe que o levara a aplicar a própria letra do protocolo num momento em que devia antes restringir-se ao espírito; o músico se aproximou ainda mais da Sra. de Guermantes e lhe disse:

- Sra. duquesa, gostaria de solicitar a honra de ser apresentado ao duque. -  

     A Sra. de Guermantes era bem infeliz.
     Mas enfim, por mais que fosse uma esposa traída, ainda assim era a duquesa de Guermantes e não podia parecer destituída do direito de apresentar ao marido as pessoas que conhecia.

- Basin - disse ela; permita que lhe apresente o Sr. d'Herweck.

- Não lhe pergunto se irá amanhã à casa da Sra. de Saint-Euverte - disse o coronel de Froberville à Sra. de Guermantes, para dissipar a penosa impressão produzida pela solicitação intempestiva do Sr. d'Herweck. - Paris inteira vai estar lá. -

     Entretanto, virando-se num só movimento e como de uma só peça para o músico indiscreto, o duque de Guermantes, enfrentando-o monumental, mudo, enfurecido, como Júpiter entronado, permaneceu imóvel desse jeito por alguns segundos, os olhos flamejando de cólera e de espanto, os cabelos frisados parecendo sair de uma cratera. Depois, como no transporte de um impulso que só a polidez solicitada lhe permitia cumprir, e após ter dado a impressão, por sua atitude de desafio, de atestar a toda a assistência que não conhecia o músico bávaro, cruzando às costas as duas mãos enluvadas de branco, inclinou-se para diante e fez ao músico uma saudação tão profunda, cheia de tanta estupefação e raiva, tão brusca, tão violenta, que o artista, tremendo, recuou, inclinando-se para não receber uma cabeçada no ventre. 

- Mas é que justamente não estarei em Paris - respondeu a duquesa ao coronel de Froberville. - Dir-lhe-ei (não deveria confessa-lo) que cheguei à minha idade sem conhecer os vitrais de Montfort-l'Amaury. É vergonhoso, mas é assim. Então, para reparar essa ignorância culpável, prometi ir vê-los amanhã. -

     O Sr. de Bréauté sorriu com finura. De fato, compreendera; se a duquesa pudera ficar até a sua idade sem conhecer os vitrais de Montfort-l'Amaury, essa visita artística não assumia de súbito o caráter urgente de uma intervenção cirúrgica e teria podido sem risco, depois adiada durante mais de vinte e cinco anos, sofrer um atraso de vinte e quatro horas. O projeto da duquesa era simplesmente o decreto baixado, à Sra. dos Guermantes, de que o salão Saint Euverte decididamente não era casa verdadeiramente distinta, mas uma casa em que a gente era dada para depois se enfeitarem conosco na crônica social do Gaulois casa que distinguiria com um selo de suprema elegância àquelas (aquilo menos aquela, caso se tratasse de uma só) que ali não seriam visto o delicado prazer do Sr. de Bréauté, duplicado pelo prazer poético pelas pessoas da alta sociedade ao verem a Sra. de Guermantes; coisas que sua posição menos elevada não lhes permitia imitar, mas simples visão lhes provocava o sorriso do camponês ligado à sua terra; que vê homens mais livres e mais afortunados passarem acima de sua cabeça, esse prazer delicado não tinha qualquer relação com o encantamento dissimulado, porém desvairado, que logo experimentou o Sr Froberville. Os esforços que o Sr. de Froberville fazia para que não ouvissem seu riso tinham-no feito ficar vermelho como um galo e, apesar disso; entrecortando as palavras com soluços de hilaridade, que ele exclamou tom misericordioso:

- Oh, pobre tia Saint-Euverte, ela vai ficar doente causa disso! Não, a infeliz não vai ter a sua duquesa. Que golpe! Essa é de matar! - acrescentou, torcendo-se de riso. E na sua embriaguez não deixou de socorrer-se dos pés e esfregar as mãos. Sorrindo com um só nos cantos da boca ao Sr. de Froberville, de quem apreciava as más intenções, mas nem por isso menos sentia um tédio mortal, a Sra. Guermantes acabou por se decidir a abandoná-lo.

- Escute, vou ser obrigada a me despedir do senhor - disse-lhe a duquesa, erguendo-se com ar de resignação melancólica, e como se representasse uma desgraça para ela. Ao encanto de seus olhos azuis, voz docemente musical fazia pensar na queixa poética de uma fada. - Ele quer que eu vá ficar um pouco com Marie. -  

continua na página 39...
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